quarta-feira, 27 de junho de 2007

Terna melancolia

Sempre fui de escassa paciência nas questões de manutenção técnica do blog. É uma evidência que em nada me preocupa. Hoje, porém, tentei actualizar um pouco mais as linkagens, objectivo que perseguia faz bastante mas cuja não consumação se explica pela tal paciência; falta de. Contudo, foi suficiente para que prestasse atenção a duas curiosidades. Primeiro que faltam três dias para que conte um ano desde que mudei bagagens da weblog para aqui; segundo, este blog foi criado num dia 27, Janeiro de 2004 – bem mais velhinho do que num primeiro assomo de pensamento julgaria… afinal foram mais de setecentos posts deixados noutra ‘mala’, perdidos ou esquecidos, nunca mais recuperados senão num miserável backup guardado algures no(s) disco(s) rígido(s), ainda não inteiramente apagado pois que nem eu próprio o posso eliminar e nem o administrador da weblog se lembrou de o fazer mesmo ultrapassado em prazo de três meses entre postagens que são os mínimos ‘exigidos’ para não encerrarem o endereço de (uma) vez: ainda existe aquele na weblog, teimoso.

A velocidade de postagem é aqui bem mais vagarosa e pausada. De certo em proporção inversa à velocidade de vida, noutro ímpeto e com outra fome. Poderá dizer-se a cereja no topo do bolo, mas não; a cereja no topo do bolo será quando ambos forem memórias esvaídas e esfumadas por entre neurónios que não esquecem, quando este aqui na blogspot deixar de ter continuação: é o lugar comum dos blogues, nascem para a morte que, quanto muito, se pode ir adiando… e quando o placebo deixar de enganar o organismo coloca-se o derradeiro ponto final – não é ainda hora, estamos decididos.
Este ainda vive ou sobrevive sem carecer de máscara de oxigénio entubada à devida garrafa. O outro, defunto sem funeral… Resta a terna melancolia do que por lá ficou e que não pôde ser trazido para este novo albergue; sim, se pudesse reunia os dois sem prejuízo de nenhum. Afinal, o futuro é para onde agora, no presente impetuoso e esfaimado, nos dirigimos. Porque há trajectos, porque não foi fortuita nem alheiamente, arrecadando conceito ao acaso, que lhe chamámos trajectos. Trajectos, em solidariedade absoluta.

Nada mais acrescento, virei talvez oportuna e casuisticamente a fazê-lo. Há demasiados projectos que na escala das hierarquias ultrapassam a redacção num blog. Um blog, por mais estúpida e tola que pareça a asserção, um blog não passa disso mesmo: um blog; e um blog não se transcende. A noite vai longa, o dia irá ser de batalhas. Até mais logo.

© PmA


"Aquele que vós ontem vistes tão audacioso, não estranheis vê-lo também covarde no dia seguinte: ou a ira, ou a necessidade, ou a companhia, ou o vinho, ou o som de uma trombeta encheram-no de coragem; não é por isso um coração formado com discursos; essas circusntâncias fizeram-no vibrar; não nos surpreende vê-lo de um momento para o outro tornar-se diferente por outras circunstâncias contrárias."

'Essais, II', Montaigne


Ainda assim, há histórias que se escrevem nos céus a pó de estrelas e doutros tantos sedimentos cósmicos... Ainda assim, o intocável.

2 comentários:

  1. Melancólico ou não gosto de ler estes pedacinhos que por aqui vais deixando. Verdade é que prefiro outros pedacinhos, mas cada qual em seu lugar.

    ResponderEliminar
  2. Gosto de pedacinhos. E também gosto que estes, todos juntos num só pedaço maior, tenham os seus devidos referenciais; há predacinhos que aqui não cabem, nem pelo verbo apenas, que são...

    ;)

    ResponderEliminar