quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Desde já, até mais

Escurece. É a noite. Coisa normal. Escurece, todavia, em demasia. Os irrecordados medos de criança face à escuridão reemergem. Onde estás tu, dia? Quero-te, com a manhã que te anuncia mais forte até novo ocaso. Raspaste-te e cá sozinho me aguento. Não tenho medo, asseguro firme; firme na certeza de que minto, na necessidade de uma mentira protectora que nos impede do descambamento num real ainda mais irreal que a suposta realidade a que lhe atribuem nomes, convencionada e adjectivada quase hiperbolicamente por aqueles que mais temem do que uma criança prostrada ao escuro.
As saias das mães não mais são suficientes para nos amparar desses medos cáusticos impostos por esse negrume degredo da escuridão. Faltava só relampejar…
Assim, obriga-se à luz. Não natural. Essa, dos candeeiros que, tão pardacentamente vão alumiando esquinas e becos nas trémulas mentes, feitos brejeiros destemidos se sentem mais importantes que o sol. Loucura hiper-realista, talvez. Não quero dormir, entregar-me a esses trabalhos oníricos que a bel-prazer brincam com os meus neurónios, quero sim estar desperto para os acontecimentos: ainda os há, não desrespeitando as opiniões dos cépticos. Busco, portanto, pelo acontecimento. Pressinto que o haja para outrem, não o auguro para mim, impossibilitado por míngua de crença na razão e na sensibilidade mais directamente provinda dos sentidos. Quando a nova aurora? Tenho sono, faz-me falta repousar a ossada. Outro dia, talvez; mês, ano… Fervorosamente pouco esperançoso, sem querer entrar por caminhos de contradição. Não me interessa, a mim, o novo homem; sim, o novo dia – Haverá previsões?
Sem cabalas assume-se o que há para assumir, sem receios outros que não aqueles que a mente nos possa pregar. Em súmula: Estou mesmo a precisar de férias… ou estou mesmo a necessitar de corromper a mente com mais trabalho, uma parafernália dele.

l'eclair, 1868, victor hugo



"esta é sobre ti
tem amor e ódio
é para ires ouvindo nestas horas d'ócio
ínfima parte de um sonho perdido
libertei-o, ja o tinha esquecido
é um sinal...
espero o momento na sombra da rua

ouço uma voz que me lembra a tua
passei pelo risco de sofrer
por não ler os teus sinais
é um sinal... para recomeçar...

quero ver gente, quero ver a terra
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera

leva-me as areias quentes
que me instigam os sentimentos
que me deixam nua perante os elementos
ensina-me a escavar objectos sem estragar
para que sorrir seja sempre vulgar
dá-me de beber, finas gotas desse mel
para que o meu saber não esteja só no papel
incita-me a lembrar
o teu gosto pelo mar
para que um dia fique pronta a zarpar
esperar que amanhã tudo seja diferente...
e tu possas estar presente...

quero ver gente, quero ver a terra
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera

incita-me a atirar os dados sem soprar
quero-te dizer seja vulgar...
quero ver gente, quero ver a terra
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera

incita-me a atirar
para recomeçar...
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera"

'Esquecimento' Mesa

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