terça-feira, 30 de março de 2010

Arte nem sempre se ensina

Três horas e mais depois da meia-noite. Novo dia, portanto. Estou eu e o meu portátil apenas, como que fazendo companhia um ao outro, prestando cada um, e de sua forma peculiar, o seu ombro. Uma máquina e uma pessoa não é coisa que se diga (por ora) poder-se compatibilizar. É nesse sentido de opinião que assim sugere que eu tecle e tu repliques o que te foi comandado. Não terás vida de mote próprio, segues os passos que, não gosto desta sentença, te ordenam seguir. Contudo, e não pela primeira vez, não então novidade, pareces ser tu quem puxa pelas minhas mãos em direcção a cada tecla, a cada tecla certeira que, batendo uma a uma, compõem o texto assim acertado. Sentirá a máquina o pulsar do nosso coração? Creio ser demasiado prematuro asserir tamanha façanha. Mas todos nos influenciamos; e o meio ambiente, ainda que não vivo na nossa acepção do conceito, também ele desempenha o seu papel, a meu ver fundamental, no desenrolar dessa sobrecitada influência.
Passo as mãos no meu cabelo com os dedos imitando o formato de um pente. Não. Hoje nem tudo está bem. Algum equilíbrio, por muito desequilibrado que eu seja, se vê quebrado pela ausência de quem me despenteando me apruma melhor do que eu mesmo. É-se como que engolido por uma proximidade que aparta e, em simultâneo, é como se a distância se quisesse ver ignorada e até mesmo esquecida porque apenas fortuita e circunstancial. Explicar é o truque mais burilado. Saber, tantas vezes o sei, passe a redundância, é mais fácil. Como to dizer de forma descomplicada e inteligível? Fácil, não obstante as complicações que acarreta. Seria necessária uma habilidade tremenda para conseguirmos escapar de nós próprios, particularmente quando temos aquela vozinha permanente, que nada mais é que a nossa consciência ou reflexo do nosso estado de tal coisa, pelo que se torna fácil de entender que saber algo é infinitamente menos complexo do que o transmitir com o menor ruído possível a outrem. Esta é uma explicação básica, mas que me parece soberana. Escusassem as vossas expectativas de cuidar por mais, pois o bafejo do genial nunca me abordou e menos ainda me chegou a tocar. É só assim, de forma incauta e inacabada, que te posso explicar aquilo que os milhões de neurónios têm ou detêm a seu bel prazer. Serei, pois então, um fraco comunicador. Como os demais, aliás. Mas é somente por meio de uma fórmula, cuja génese desconheço, que tão pouco explico o que tanto digo saber. Talvez já o tenha dito da forma mais correcta, ou pelo menos a mais perceptível através dos medíocres meios de comunicação (para o exterior) de que dispomos: «passo as mãos no meu cabelo (…) de quem despenteando melhor do me apruma melhor do que.» Não creio que as parábolas melhorem os nossos cingidos meios de comunicação. Nem mesmo a metáfora, mesmo que a mais simples e a que tanto se insinua.
Como vês, ao querer explicar-te o que sei baralhei-me mais do que baralhado está um novelo de mil meadas. Custa-me aflorar ao teu ouvido para que este oiça banalidades de que está cansado; farto? Por isso escolhi outra forma de me exprimir, contando, porque o sei e não me solicites que to explique, que me irás entender. Havemos, se céus existem, de colher os nossos frutos. E que não o seja de forma singular defronte a rostos que, por ventura, nem sequer conhecemos e muito menos ainda reconhecemos. Que o seja em comunhão, em práticas quotidianas e outras que não, reconhecendo os nossos rostos defronte dos espelhos que o mundo faz existir para que todos nos possamos reconhecer na imagem retornada. Lembrei-me de uma música que não aprecio em particular mas que escrita por outras bandas me relembra o sentido do que faz real e efectivamente sentido. Não te expliques também. Eu sei o que queres com as tuas palavras. Definitivamente, há ocasiões em que o silêncio é de ouro. Sei o que dizes, sei o que quero dizer, por mais árdua que fosse a tarefa de explicar a riqueza do nosso conhecimento.


"Do you hear me?
I'm talking to you
Across the water
Across the deep blue ocean
Under the open sky
Oh my, baby I'm trying


Boy I hear you in my dreams
I feel your whisper across the sea
I keep you with me in my heart
You make it easier when life gets hard


Lucky I'm in love with my best friend
Lucky to have been where I have been
Lucky to be coming home again
Ohhhohhhohhhohhohhohhhohh


They don't know how long it takes
Waiting for a love like this
Every time we say goodbye
I wish we had one more kiss
I'll wait for you, I promise you I will


Lucky I'm in love with my best friend
Lucky to have been where I have been
Lucky to be coming home again
Lucky we're in love in every way
Lucky to have stayed where we have stayed
Lucky to be coming home someday


And so I'm sailing through the sea
To an island where we'll meet
You'll hear the music fill the air
I'll put a flower in your hair


Though the breezes through the trees
Move so pretty, you're all I see
As the world keeps spinning round
You hold me right here right now


Lucky I'm in love with my best friend
Lucky to have been where I have been
Lucky to be coming home again
Lucky we're in love in every way
Lucky to have stayed where we have stayed
Lucky to be coming home someday"

'Lucky', Jason Mraz

domingo, 7 de março de 2010

Forty. Plus nine.

Mesmo nos dias de Inverno há uma acendalha que espevita a fogueira.




"Neste caso, por bem, entendo qualquer alegria e tudo o que a provoca (...) Por mal, entendo qualquer espécie de tristeza.", Espinosa