terça-feira, 27 de abril de 2010

Descarrilhado

Amargura sabe mal na boca porque primeiro reprovada no cérebro.


"-Há cerca de dois anos conheci uma rapariga e fiz asneira da grossa, gostei mesmo dela."

'Olhos nos Olhos', Júlio Machado Vaz

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Patetices...

A loucura é uma prostituta de rua. Uma rameira barata, que se vende por escassos tostões. Informei-a de que tinha um papel do médico. Uma prescrição de poções mágicas à prova dela, da loucura. Todavia, derrotou-me. Ainda bem.


"This bed is on fire
With passionate love
The neighbors complain about the noises above
But she only comes when she's on top

My therapist said not to see you no more
She said you're like a disease without any cure
She said I'm so obsessed that I'm becoming a bore, oh no
Ah, you think you're so pretty

Caught your hand inside a till
Slammed your fingers against the door
Fought with kitchen knives and skewers
Dressed me up in women's clothes
Messed around with gender roles
Dye my eyes and call me pretty

Moved out of the house, so you moved next door
I locked you out, you cut a hole in the wall
I found you're sleeping next to me, I thought I was alone
You're driving me crazy, when you're coming home
Pretty"

'Laid', James

Caminhar no fio da navalha

Queres partir, mas os teus sentimentos são cordão umbilical que te prendem. Todo o ser humano precisa do seu amputado para poder prosseguir a sua vida.


"Remember in this game we call life
That no one said it's fair"

'Breakdown', Guns n' Roses

domingo, 25 de abril de 2010

Os cravos também têm espinhos

No dia da 'liberdade', um pensamento agrilhoado. Há vontades que não se podem realizar.


"As vivências terríveis fazem-nos pensar se o seu protagonista não é, ele próprio, algo de terrível."

'Para Além de Bem e Mal', Friedrich Nietzsche

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Quem escuta nem sempre ouve

Nada tem de invulgar que o silêncio assuste, mesmo quando sobejamente enleado por uma panóplia de sons diversos e até, porque não, gritantes ou estridentes. O silêncio não se sente perturbado por sons que em nada lhe dizem respeito, permanecendo, firme, na sua altivez. O silêncio que construímos impele-se mais alto do que qualquer ruído que se lhe atravesse. Nestes moldes, o silêncio não é de ouro; nem de prata; nem mesmo de latão. Este silêncio é absoluto, de um absolutismo rude e empertigado, silencia inclusivamente os gritos que do interior das entranhas querem explodir em todo o redor do mundo. Este silêncio é perverso. Perverso e tão perverso ao ponto de nos compelir a não escutar as nossas próprias cogitações. É um silêncio que enrijece o músculo cardíaco, tornando tenebrosa a mais cândida alma sem vacilar à contrição.

Com a sua solidão e obscurecendo o espírito avilta a nossa condição humana. Derruba. Degrada. Consome. E se este círculo não se vir inexoravelmente quebrado, por obra exequível apenas pelos homens, então consumirá sem piedade até que por fim se extinga a sua chama aniquiladora, deixando por rasto tão somente terra queimada e solo estéril.

O encantamento provindo da acção de um ser humano dissipará, assim o desejando e assim agindo, o silêncio arguto e perverso. Quanto a esta asserção, não me paira qualquer dúvida, nenhum será, nenhum como; convicção de que quem fala sabe do que fala.

É momento para agora abandonar as palavras, de estancar a fluidez da escrita: o silêncio é pesado.



"Sem comunicação não existem relações humanas nem vida humana propriamente dita."

'A Improbabilidade da Comunicação', Niklas Luhmann

Perfídias Nocturnas e Insinuações Sobre o Tempo...

Tempo manhoso. É de desconfiar quando o tempo, a um só tempo, tanto voa como, pesado, custa a passar. É de desconfiar de tal tempo manhoso. Pelo tempo que o tempo tem coleccionou mais manhas que o homem mais vivido ou que, dessa forma, se assuma. E o que o tempo tem oferece e retira sem piedade, consoante a disposição com que o tempo tenha despertado. E passa. Célere, como o sopro de uma bala rente ao ouvido. Preguiçoso, mastigando-se a si próprio num impropério ruminante. O tempo é que sabe. O tempo só a si pertence. Nós por ele limitamo-nos a passar: numa vida mais intensa, num quotidiano de melancólica morosidade. Só o tempo não ri nem chora. Já viu tudo. As belas histórias que pensamos inventar viu-as ele vezes sem conta. Por isso não ri nem chora.
O tempo é uma dádiva e uma maldição. Estava antes de nós, não findará connosco. Dádiva. Há que aproveitá-lo. Maldição. Então que o desperdicemos. Ou não. Cada vontade fará com o tempo o que bem lhe aprouver, conquanto não se arrogue de alguma vez vir a usufruir do tempo que só o tempo tem. Melodias, sussurra-nos em segredo esse tempo que a si se tem todo. E embalados, embevecidos, passamos pelas brasas enquanto a seiva da vida se nos esgota no tempo. Outras circunstâncias encarregam-se de que o nosso ensejo batalhe para que o tempo em vida se esgote mais rápido. Com o tempo nada podemos fazer, nada lhe podemos ganhar. Resta-nos tão somente, no seio do tempo de vida que nos foi consagrado, escolher; escolher o que fazer com o nosso tempo...

"You must remember this
A kiss is just a kiss, a sigh is just a sigh.
The fundamental things apply
As time goes by

And when two lovers woo
They still say, «I love you»
On that you can rely
No matter what the future brings
As time goes by
Moonlight and love songs
Never out of date
Hearts full of passion
Jealousy and hate
Woman needs man
And man must have his mate
That no one can deny

It's still the same old story
A fight for love and glory
A case of do or die
The world will always welcome lovers
As time goes by
 
Oh yes, the world will always welcome lovers
As time goes by"

'As Time Goes By', OST Casablanca

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Indigente

São as abstracções incongruentes na vida real que me fazem sentir irreal.

"O recalcamento cria a angústia."
'Psicologia Patológica', Jean Bergeret (dir.)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Intrigas de faca e alguidar

Sem palavras doutrém nem imagens de suporte.
O meu, se é a que a isso se pode chamar, coração só mudou há menos de meia dúzia de anos. Se estou arrependido? Não. Congratulo-me. Afinal, encontrei o que jamais ousara encontrar. Não foi mudança operada a estilo solitário. Isso já eu afiançara. Muito mais que isso, para além desse limite limitado. Operou-se uma transformação em que tanto sou preciso como, por outro turno, me sinto ávido de outrém. Assim estou melhor. Mais contente. Feliz. Porque não radiante, assira-se, com o que consegui sem ser justamente apenas por mote próprio?
Todos precisamos de alguém. Alguém que não todos. A escolha fi-la e, indubitavelmente, ela a mim. Sereno, é como me sinto agora. Preenchido, sem abstinência nem excesso que transborde. Feliz, porquanto... Basta de palavras que 'babam', por mais que muitas delas, sendo honestas, nunca se inscrevam nesse registo.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Meio Século de aninhos

Caminhar sozinho as estradas da vida é tarefa ingrata e pouco apetecível para a maior parte dos homens e das mulheres. Por isso se terá constituído primeiramente a sociedade, com o intuito que alcançar objectivos que por si só um ser isolado se veria manifestamente incapacitado de concretizar. Porém, a sociedade tornou-se ela própria aos poucos excessivamente lata para o desígnio da vontade individual. Nas nossas sociedades, nas sociedades ocidentais, o par, entendido como o casal, tornou-se o primeiro elemento de charneira entre a solidão extrema e a agregação orgânica que dissolve a identidade pessoal; é importante que não nos percamos, tanto quanto o é nos sentirmos dotados das nossas faculdades intrínsecas e por elas reconhecidos no meio da multidão.
Hoje vivemos dias semelhantes, onde o indivíduo se quer reconhecido sem que deixe de participar de um conjunto como que transcendental que ocorre no terreno e no plano do profano. Um dos laços que nos identifica, particularizando-nos, e que nos une, num sentimento de pertença adstritos normas e valores grupais, é inevitavelmente a família de onde provimos. Depois o grupo de pares. Mais tarde, após o grito de Ipiranga, recolocamos o sentido ao sentido. Por fim queremos ser não só um eu como também um nós. E assim se reproduz indivíduo e sociedade, com uma mediação cuja importância nunca deixará de ser central: o nós; o nós de duas identidades que unas respondem a uma só voz, sem deixar de respeitar as (distintas e aproximadas) vozes que enformam essa mesma uma só voz.
É este nós, não mera soma de duas vozes mas comunhão participada das mesmas, que hoje exalto. Os trajectos e os caminhos não serão abertos nem desbravados por um indivíduo ou por uma sociedade sem rosto próprio; somos nós que com duas vozes nos fazemos ouvir a uma só voz. Assim percorremos o incerto, talvez ao sabor tanto do acaso como de algum determinismo, ombro a ombro, gémeos puros sem cisão alguma que rompesse a união inicial. E se assim caminham ombro a ombro sem distância que os separe, é porque assim entenderam e o elo que os mantém vai muito para além da mera carne.
Também hoje não me esqueci, obviamente.


Apenas amamos aquilo que não possuímos por completo.”, ‘Em Busca do Tempo Perdido, vol. 5’, Marcel Proust

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Menina-Mulher...

A Lua testemunhou-te. Viu-te surgir e, encantada, fervilhou na sua branca luz e sorriu-te terna e plácida. Inauguraste um novo calendário; hoje orgulho-me que ele me abrace, respondendo a uma vontade nossa, a uma vontade que é tua. Voltarei a vir cá, exaltando o dia que é teu. Sabes, hoje brilhou uma nova estrela no firmamento; nascida a propósito.





"Como podria ser verdad

Last night I dreamt of san pedro
Just like I'd never gone, I knew the song
A young girl with eyes like the desert
It all seems like yesterday, not far away


Chorus:
Tropical the island breeze
All of nature wild and free
This is where I long to be
La isla bonita


And when the samba played
The sun would set so high
Ring through my ears and sting my eyes
Your Spanish lullaby

I fell in love with San Pedro
Warm wind carried on the sea, he called to me
Te dijo te amo
I prayed that the days would last
They went so fast

(Chorus)

I want to be where the sun warms the sky
When it's time for siesta you can watch them go by
Beautiful faces, no cares in this world
Where a girl loves a boy, and a boy loves a girl

Last night I dreamt of San Pedro
It all seems like yesterday, not far away

(Chorus)


La-la-la-la-la-la-laaa
Te dijo te amo
La-la-la-la-la-la-laaa
El dijo que te ama


Pa-pa-la-pa-pa pa-pa-pa-pahaaa
Aha, aha-ahaaa
La isla bonita
Ahaa, aha-ahaaa..."

'La Isla Bonita', Madonna