segunda-feira, 30 de maio de 2011

Num destes dias

O pôr-se do astro solene visto da baía de Cascais é música solene, interpretada no interior de cada um conforme a sua batuta. O mar escama-se e muda de cores, quase que à escolha da vontade de cada ser único. A brisa suave e amena, despertada como que a propósito de um momento tanto instantâneo como infinito.
Os derradeiros raios de Sol tocam a superfície do rosto, das mãos, despedem-se prometendo sempre o amanhã. Olho-o de frente mas mesmo na sua luminosidade tardia obriga os olhos a brilhar e a cerrarem-se, ainda que providos com os inevitáveis óculos de sol que escondem essas janelas.
Sentado no chão de pernas cruzadas volto a olhá-lo por mais uma vez. Ergo-me. Começo a caminhar, vou-me. Entretanto, estipulo com ele num pacto secreto: se vieres amanhã, também eu voltarei a subir os olhos para ti com um sorriso, por ti, aquecido.


"Só hoje senti
Que o rumo a seguir
Levava pra longe
Senti que este chão
Já não tinha espaço
Pra tudo o que foge
Não sei o motivo pra ir
Só sei que não posso ficar
Não sei o que vem a seguir
Mas quero procurar

E hoje deixei
De tentar erguer
Os planos de sempre
Aqueles que são
Pra outro amanhã
Que há-de ser diferente
Não quero levar o que dei
Talvez nem sequer o que é meu
É que hoje parece bastar
Um pouco de céu
Um pouco de céu

Só hoje esperei
Já sem desespero
Que a noite caísse
Nenhuma palavra
Foi hoje diferente
Do que já se disse
E há qualquer coisa a nascer
Bem dentro no fundo de mim
E há uma força a vencer
Qualquer outro fim

Não quero levar o que dei
Talvez nem sequer o que é meu
É que hoje parece bastar
Um pouco de céu
Um pouco de céu"

'Um Pouco de Céu', Mafalda Veiga

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