quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Olha que Dois!

Era uma vez – sempre gostei de estórias iniciadas com 'era uma vez' – um mais outro um. Na existência de um espaço de interrupção que os mantinha até então ainda apartados, evidenciavam a sua natureza isolada; à data o dois, pregados um mais um numa solidão dormente, não transpunha a miragem de um sonho que experienciasse comunhão, ora latente ora desperta, afinal desejada. Eram um mais um, um mais outro; coisa bem distinta de um com um, um com outro. Eram únicos, porém continuam tanto quanto continuarão a sê-lo. Únicos, contudo de maneira a que inevitavelmente sós. Não que fosse mau, todavia longe de ser bom... inacabados, talvez seja a expressão que melhor lhes assentasse; construções em demasia inacabadas...

Um dia quis o desígnio dos pozinhos mágicos das estrelas e demais fragmentos do cosmos que tal circunstância se revolucionasse. E alterou-se, numa transformação cumulativa. Um mais um constituíram-se no dois; um com outro, um com um. Assim, únicos sem que para tal isolados, moldaram as suas peças, esquematizaram uma vida conjunta onde dois seres individuais consubstanciam o sem paralelo da integridade. Seria pouco considerar tratar-se de relação simbiótica. Atravessavam-se, fundiam-se, conheceram-se dois como um integrado. Osmose, era o termo que me faltava nesta descrição de pureza e de partilha que comungada se alcança. Atingiram a imperfeição mais perfeita. Um e outro, juntos com; dois.

Crêem hoje, estória de fadas vista real, ser um um universal e já historicamente indivisível, irredutível às partes. É certo, o dois complementado neste um abrange o manancial das suas partículas individuais, das exclusividades características, dos traços particulares. Não obstante, sonham sonhos conjuntos, contam o futuro que ainda não chegou em linha escritas por duas mãos que sobrepostas se confundem numa e numa apenas. Dois num. Também o dois pode ser um, e assim ditam o passado e o presente que vão redigindo essas linhas do tempo por vir. São um com um, dois. São dois que existem num um. Trajectos como os contados fazem as estórias que os livros narram. Há estórias felizes. Escusa-se a pensar no fim. Apenas que há estórias felizes. Talvez, quem sabe, a sua herança venha a descrevê-las: pequenos menininhos e pequenas menininhas que a seu tempo irão igualmente buscar pela ternura do dois.

Enfim, hoje contam, um com um, dois.




Nalguns casos, duas pessoas comunicam a sua disponibilidade para a relação sem sequer um contacto físico, sem uma palavra, mas através de um conjunto de estímulos subliminais.

'Sexo e Amor', Francesco Alberoni

3 comentários:

  1. A páginas tantas acaba-se, ou começa-se, com cravo e canela. Realmente há estórias felizes. Conheço poucas mas sei que elas existem...

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  2. Fico muito feliz por te saber feliz. Há constatações que somente nos dizem que aquilo que nos está reservado a nós vem ter, independentemente de tudo. Ainda bem!

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  3. IGG, existem e terminam noites em parques principescos... Escusam-se mais palavras. ;)

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