quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Divagando...

Gosto pouco de balanços, aliás nutro mesmo pouca simpatia pelos mesmos; só em circunstâncias excepcionais – abro aqui excepção a uma não excepção…

O ano de 2006… Olhando para Janeiro compreendo que desde logo se apresentou prometedor. Não em todos os aspectos, aliás nalguns ficou bem aquém, ainda que no essencial tenha cumprido e mais que cumprido. Se Janeiro ficou pautado por algumas desilusões como por momentos vincadamente desagradáveis, por outro foi gerando o que em Fevereiro se formataria, logo breve, em vínculo. Iniciou-se, o ano, numa tez acinzentada mas assente em esperanças de aurora radiosa; de tal maneira se cumpriu, ainda que para tal alguns troços do percurso hajam sido percorridos na sinuosidade de piso que escorrega por debaixo dos pés que outra coisa não querem que assento firme.
O segundo trimestre manteve-se percorrido com alguns desencontros, mas depressa encontrou recta sem geada possibilitando a aderência ao essencial. Já o terceiro cristalizou esse essencial, contudo augurando uma perda que seria significativa e que, por fim, se consumou no derradeiro período de três meses; mas igualmente o essencial… igualmente o essencial, que é o que mais importa.
Voltei a encontrar-me com o Algarve, visto por outros olhos que antes cansados dele o reencontraram brilhante. Trouxe-me ao conhecimento a ilha da Madeira, e na ilha da Madeira o (re)conhecimento de certezas que se fermentavam. Trouxe-me aos sentidos a metrópole de Milão experienciada sem dar azo a tais certezas, já que essas se haviam há muito consolidadas no implícito do quotidiano vivido.
A academia reentra nos projectos de vida e decorre mais esplendorosa que nunca, encontrando e encontrado por fim um dos dois curricula de maior interesse pessoal que vinha, demasiado plácido, perseguindo. Por aqui desabrocha de novo a ilusão em detrimento da desilusão.
Constitui-se ainda a Trajectos, que certamente despontará florida em 2007 se bem que já de alicerces indubitavelmente enraizados. Há ‘sociedades’, que pela sua formatação, roçam a perfeição de um futuro que, dia-a-dia, se constrói.

Foi decerto um ano de emoções e ilusões, capacitando com o concreto algumas das direcções do porvir. Ao pragmatismo céptico substitui-se-lhe a emoção-razão pragmática, bem mais leve, livre e gratificante que o seu antecessor excessivamente ‘frio’. Óbvio, soçobra-se nalgumas frentes sendo que porém se conquista noutras. E não sendo quantitativamente mensuráveis, são-no qualitativamente. E a aferição, sem necessidade de esmiuçar, veste o manto da convicta convicção do ganho obtido. Até o Natal, esse monstro papão desprovido de sentido desde os tempos mais tardios da infância, reganha não só signicante como significado; e terminou por se dobrar à vontade de quem quer. E, quase pelo Natal, não só a Trajectos como a perspectiva da permanência activa em Lisboa; por ora, convenha-se… – escuso-me a falar (de)mais do porvir.

Se 2006 tem sido essencialmente um ano de construção firme, 2007 descobre o rosto com a afirmação estável do acontecido; o melhor do acontecível… Resta aguardar serenamente que pontas ainda soltas se arrematem. E o sonho vive-se. Em conluio com Sol e Lua, géneros opostos que se atraem e complementam na unicidade de trejeitos cósmicos. O sonho vive-se, de olhos bem abertos, desmontado então o véu que cortinava uma visão turva daquilo que tradicionalmente denominamos realidade.

"Oiço todos os dias,
De manhãzinha,
Um bonito poema
Cantado por um melro
Madrugador.
Um poema de amor
Singelo e desprendido,
Que me deixa no ouvido
Envergonhado
A lição virginal
Do natural,
Que é sempre o mesmo, e sempre variado
"

'Lição', Miguel Torga

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Passo a Passo

Um gato na Marinha. Um sociólogo na terra do vidro, por excelência a é. Realidades que se julgavam intangíveis ou mesmo jamais imaginadas assumem os contornos do concreto. As cidades possibilitam-nos esta mobilidade; mobilidade de estar, de pensar, de agir. E eu encontro-me de novo entrosado com elas, com as cidades, em estreita comunhão e dependência. Lisboa é a maior, ainda que não em todas as acepções, e em Lisboa ainda a FCSH. Não serei um pária urbano, se bem que consentidamente me vá perdendo (encontrando?) num rol delas. No meu sangue corre já o betuminoso, o cimento, a armação em ferro, o suor do quotidiano vivido no presente, passado e futuro. Sina ou fado previamente determinados, dir-se-ia; à asserção oponho-me com a opção da escolha, de um percurso traçado com escolhas à direita e à esquerda e para além da direita e da esquerda. Ao destino, sobreponho o conceito de construído. Porque creio que nada se mantém desembaraçado da inelutável, interminável, contínua jornada da construção social da realidade e da construção da realidade social; seja na esfera pública como na privada. O investimento incontornavelmente exigido; e o curso mantém-se. Trajectos…


(capa à 6.ª ed., Italo Calvino, 'As Cidades Invisíveis')


Prologue – Un vieux problème dans un monde nouveau

in Loïc Wacquant, ‘Parias Urbains

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Dois Dígitos

Começa pelo dez. Depois não termina, segue estrada fora; um dígito a par do outro, numa lógica holística. Então o todo passa a ser irredutível às partes; doutra forma seria apenas soma dum dígito com mais um dígito.



"Enfim, é um laço forte o amor consolidado de uma vida vivida em comum, em que cada um se tornou indispensável para o outro […]"

Sexo e Amor’, Francesco Alberoni

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Milano

- Desinteressante, feia, sem nada para se ver.
- Logo se vê...


"Ninguém sabe melhor do que tu, sábio Kublai, que nunca se deve confundir a cidade com o discurso que a descreve."

'As Cidades Invisíveis', Italo Calvino

sábado, 18 de novembro de 2006

Refutando...

- Não gosto de lágrimas.
- O amor chora alegria.



I try to laugh about it
Cover it all up with lies
I try and Laugh about it
Hiding the tears in my eyes
'cause boys don't cry
Boys don't cry


Boys don’t cry’, The Cure

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Dá-me música

Uns pregos, uma água com gás e um chocolate quente, não excessivamente dispendiosos, são justificativo suficiente para se reservar mesa no Arena Lounge do Casino de Lisboa durante os concertos. E este, Toranja, jusficava-o mais ainda. Confortavelmente sentados, entretidos ao som de sons acima do razoável.

Nada de muito espectacular, mas que baste para agradar rompendo com algumas rotinas quotidianas entediantes algumas vezes acompanhadas por pensamentos, em demasia presentes, incipientes e algo mórbidos; vicissitudes provenientes de matérias que aqui não cabem nem pertencem. A companhia, como habitual, rompia igualmente com tais pensares e acometia-se calorosa; diria mesmo indispensável, inimpensável sua ausência. Também como habitual, soma mais ‘pontos’ que o próprio concerto ou qualquer outra prática.

Legitimada, então, a ida foquemo-nos no espectáculo ofertado em si. Simpático e caloroso, repita-se; nada de espectacular, como mencionado. Todavia, bem interessante para uma segunda-feira à noite em que fomos prendados com quase duas horas de músicas e um vasto leque de piadas sem piada. Mas na verdade os senhores esforçaram-se, culminando numa sessão francamente positiva. Pena foi o convidado especial surpresa, que por uma questão ética me recuso nomear, que ia corrompendo o entretém expectado; felizmente não se demorou, cingindo-se a acompanhá-los em apenas dois temas – presença, porém, escusada…
Como o segundo, Segundo, me parece bem mais fraco que o primeiro, torna-se normal que os momentos mais elevados fossem aqueles consagrados às músicas do primeiro de originais. A deficiente dicção de quem cantava e a medíocre acústica (do espaço ou móbil do hardware de sonorização? ou as duas em simultâneo?) foi secundarizada pela dinâmica com que, mais no final, percorria o interior da arena.
Surpreendeu, contudo, o vasto leque de presenças na assistência que cobria quer o piso do Arena Lounge como os dois pisos superiores que o rodeiam em espécie de anel. E como o casino apresenta um bonzito sistema de escoamento de gentes, foi breve e sem confusões de maior o abandono do espaço com destino ao ninho que, ávido, aguardava por alguns.

Haverá mais uma série de concertos no decorrer das próximas, ainda consideráveis, semanas. Tendo sido uma experiência por si interessante, lá regressarei nalgumas segundas feiras em que decorrerão outros eventos do género. Quem já gostava deste tipo de concertos no Casino do Estoril, certamente terá apreciado – quanto ainda irá apreciar – o que aqui ocorreu, dado que o espaço é ainda mais acolhedor que o seu homónimo da Linha.

Quanto ao resto da noite, guardo os pormenores para mim. Pouco importariam aos que os lessem, supremos para quem os vivenciou. Digo eu…

© IGG


Aconteceu...
e por me teres feito cego
recordo o sabor da tua pele
e o calor de uma tela
que pintámos sem pensar.
Ninguém perdeu,
e enquanto o ar foi cego
despidos de passados
talvez de lados errados
conseguiste-me encontrar.

Foi dança
foram corpos de aço
entre trastes de guitarras
que esqueceram amarras
e se amaram sem mostrar.
Foi fogo
que nos encontrou sozinhos
queimou a noite em volta
presos entre chama à solta
presos feitos para soltar...

Estava escrito
E o mundo só quis virar
a página que um dia se fez pesada

E o suorque escorria no ar
no calor dos teus lábios
inocentes mas sábios...
no segredo do luar.
Não vai acabar
Vamos ser sempre paixão
Vamos ter sempre o olhar
Onde não há ninguém
Dei-te mais...! Valeu a pena voar...

Estava escrito
E a noite veio acordar
a guerra de sentidos travada num céu

Nem por um segundo largo a mão
da perfeição do teu desenho
e do teu gesto no meu...
foi como um sopro estranho...
...e aconteceu...

És noite em mim,
És fogo em mim.
És noite em mim.


Fogo e Noite’, Toranja


Ah, a noite… E como nela tudo se torna (quase) perfeito…

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Sono

- Dorme comigo.
- Só em sonhos. Zzz… Até amanhã.


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Love don't need to find a way
You find your own way
I forget that I can't stay
And so I say that
All roads lead to where you are
All roads lead to where you are

The seed is spilled, the bed defiled
For you, a virgin bride
Hide yourself in someone else
Don't find yourself in me

I can't lift you up again
Love comes tumbling down again

Love don't need to find a way
You find your own way
I forget that you can stay
And so I say that
All roads lead to where you are
All roads lead to where you are


Love Comes Tumbling’, U2

Alvitre

O amor é sério. Mas não façam caso.

nude study, 1908, henri matisse


Spy on me baby use satellite
Infrared to see me move through the night
Aim gonna fire shoot me right
Aim gonna like the way you fight
And I love the way you fight...


Sex Bomb’, Tom Jones

terça-feira, 7 de novembro de 2006

estado nascente

Em nove meses, período padronizado, um embrião desenvolver-se-á até ao estádio último que se concretiza pelo nascimento de um novo ser, completo. Reifica-se o princípio da vida, o recomeço de algo concebido em momento pretérito. Reifica-se pelo rito, mantendo acesa a chama do mito, reifica-se a glória do que é a vida e o seu eterno recomeço; renascer, continuando para e nas futuras etapas. Assim se glorifique o belo, pela transformação, adaptação e pelo seu percurso em constante caminhada na busca do perfeito ou ao que a si mais se assemelha.
É-se quase perfeito em instantes num mundo e corpos contextualizados pela imperfeição das suas existências e quotidianos vividos. Quase perfeito, roçando-a de perto…


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"Ai se eu disser que as tremuras
Me dão nas pernas, e as loucuras
Fazem esquecer-me dos prantos
Pensar em juras

Ai se eu disser que foi feitiço
Que fez na saia dar ventania
Mostrar-me coisas tão belas
Ter fantasia

E sonhar com aquele encontro
Sonhar que não diz que não
Tem um jeito de senhora
E um olhar desmascarado
De céu negro ou céu estrelado, ou Sol
Daquele que a gente sabe.

O seu balanço gingado
Tem os mistérios do mar
E a certeza do caminho certo que tem a estrela polar.
Não sei se faça convite
E se quebre a tradição
Ou se lhe mande uma carta
Como ouvi numa canção

Só sei que o calor aperta
E ainda não estamos no verão.
Quanto mais o tempo passa
Mais me afasto da razão
E ela insiste nopasseio à tarde
Em tom de provocação

Até que num dia feriado
P´ra curtir a solidão
Fui consumir astristezas
P´ró baile do Sr. João

Não sei sefoi por magia
Ou seria maldição
Dei por mim rodopiando
Bem no meio do salão

Acabei no tal convite
Em jeito de confissão
E a resposta foi tão doce
Que a beijei com emoção
Só que a malta não gritou
Como ouvi numa canção
"

'Namoro II', Trovante

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Paste me!

É cada vez mais comum deparar-me com um relativamente novo fenómeno quando me passeio pela blogosfera. De facto é um mundo que nunca pára, em constantes alternâncias, pautada pela novidade e rápidas mudanças particularmente ao nível de conteúdos que vão surgindo em catadupa, numa sucessão virtualmente interminável. Por alguma razão nos chamam a gente da sociedade em rede, sociedade ou era da informação.

Todavia, a este não o encaro com bons olhos. Não por qualquer censura moral idiossincrática, antes por estrangular a originalidade e virtuoso individualismo/ multipluralismo que em regra é o constitutivo, que lhes determinava essa tal singularidade, do post publicado/ a publicar. Deve-se, esse estrangulamento da iniciativa individual, a qualquer coisa que denomino por fenómeno assente na predominância do copy/ paste.

O que me leva a questionar, sem qualquer ingenuidade de permeio, mas será que já (quase) ninguém escreve na blogosfera? Identifique-se, então, o fenómeno copy/ paste: You Tube; fácil para todos, para o menino e para a menina – auspicioso, o reclame.

Claro, cada um faz o que entende. E por entende leia-se o que quer. Realmente eu cá também só publico (devendo ler-se escrevo) o que me dá na ‘real’ gana.

Não deixa porém de se sentir um certo vazio, uma apurada insipidez difícil de ser apreciada, ao contemplar o rol de acumuladas publicações apresentando o início de um vídeo dotado de um símbolo e instrumento de visualização centrado em ‘play’ na (ainda) estática imagem. O vinco pessoal que matiza as publicações, nas suas mais diversas e variadas temáticas, é substituído por uma construção a prioristica que pouco – nada! – deve à estética das criações que diluem a sua especificidade na massificação; a blogosfera renega a sua identidade, logo as suas raízes de princípio (e causa?), numa serialização que me faz recordar e remeter para o século passado em que o standard parecia ser a lógica a seguir e, mais, a imperar. Percebo, e disso faço igualmente uso, que a imagem e uma doseada porção de ‘plágio’ consagrem, esclareçam e ajudem na compreensão e complemento de um post que expõe uma ideia, seja essa ideia qual for. Agora este fenómeno que mais é de substituição que de complemento ao post ‘personalizado’ levanta-me algum agravo. Um dos mais livres e abertos espaços de criação é castrado. E é-o pelos seus próprios autores/ editores. Pessoalmente lamento-o…

Longe de ser um juízo de facto, este post que redijo é mais enquadrável no juízo de valor. Termino-o portanto, uma vez que a minha opinião é mais uma entre largos milhares que doutro molde se podem permitir opinar. Menos ainda me cabe a tarefa do juízo como julgamento, insistindo que esta publicação, ao menos originalmente redigida, não ultrapassa o parco limite do juízo de valor; ou de opinião, como preferem determinados comunicadores para fazer valer como conceito e que, por motivos que extrapolam a presente publicação, não subscrevo – já que o considero assim erroneamente aplicado, tanto quanto desenquadrado do seu sentido específico; pois que conceito ultrapassa em bastante a mera qualidade substantiva ou adjectiva com que tem vindo a ser corriqueiramente, e mal, empregue e imposta.

Eu cá, teimoso. Escusar-me-ei a aderir. Mas se querem (quase) todos ser iguais na indiferença… que o sejam. Ultrapassa-me. You Tube copiado e colado, aqui não. Admitindo o complemento, em toda a humildade que me é devida, não admitirei a substituição pura do conteúdo singular, ou com maior exactidão, mais ou menos singular. Dixit. Porque não gosto de ver uma blogosfera ‘calada’. Um ‘Brave New World’, à Aldous Huxley, não fará aqui cruzada. Para estar ‘calado’, delete blog? yes – click.


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"A perfeição elimina o acontecimento - é esse o seu crime, o de desencadear a reprodução, a obediência a uma necessidade. Como é óbvio, não se trata de um crime assinalável, apenas os seus efeitos o são."

Silvina Rodrigues Lopes, in prefácio a 'O Crime Perfeito', Jean Baudrillard

domingo, 15 de outubro de 2006

Ele

Porque não pode ser errante...


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harmonie tranquille, kandinsky


"Amor errante, por onde anda
Há tanto tempo, amor errante
Sinto o teu vento, sempre distante
Sem um lamento

Sem parar nem pensar
Ao partir e voltar
Para sempre hás-de errar
Onde o vento soprar

Amor distante, por quem eu espero
Contando o tempo de cada instante
Para sempre hás-de errar
Onde o vento soprar

Amor errante, por quem demoras
Há tanto tempo, amor distante
Eu conto as horas, amor errante
Ainda há tempo para voltar

Meu amor tão distante
Onde te leva o vento
Meu amor tão distante
Volto e volto ao tempo
"

'Amor Errante', Diva


...mas constante, em harmonia.

sábado, 7 de outubro de 2006

Assinalado

- Esqueceste-te…
- Achas mesmo que sim?



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"And as the hands would turn with time
She'd always say that she was mine
She'd turn and lend a smile,
To say that she's gone.
But in a whisper she'd arrive
And dance into my life.
Like a music melody,
Like a lovers song.

Oh tonight, you killed me with your smile.
So beautiful and wild, so beautiful.
Oh tonight, you killed me with your smile.
So beautiful and wild, so beautiful and wild.
"

'Tonight', Reamonn

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

... and take a deep breath

Se até os gatos com todas - tantas - as suas vidas envelhecem...


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"Some are like water, some are like the heat
Some are a melody and some are the beat
Sooner or later they all will be gone
Why don’t they stay young

Its so hard to get old without a cause
I don’t want to perish like a fading horse
Youth is like diamonds in the sun
And diamonds are forever

So many adventures couldn’t happen today
So many songs we forgot to play
So many dreams are swinging out of the blue
We let them come true

Forever young, I want to be forever young
Do you really want to live forever, forever and ever?
"

'Forever Young', Alphaville


Prossiga-se...

domingo, 24 de setembro de 2006

Amarelo com chuva

Consta que principia também por estas terras o Outono; ou principiou ontem. A estação muda, o clima anuncia-se igualmente em mutação, aprumam-se as cores da época ou, ao menos, o seu preparo.

Outras mais mudanças se formatam. À indisciplina a regra, contando-a flexível e não pautada por uma rigidez a traço de régua e esquadro.

Outras mudanças não se operam. Melhor, operam-se endogenamente. Na busca da partilha cada vez mais profunda e estruturada entre entes em laço de mutualidade sem inquinamento mas absorta na naturalidade com que se põe e nasce o dia – contemplação activa complementando-se. Porque há coisas que não mudam – ou não se querem mudadas –, antes se transmutam tal qual a encruzilhada trilha para o centro, para o objectivo único e uno

Aguardam-se os majestosos mantos que trajem a nova estação. Aguarda-se por muito, muito mais. Que brilhe…

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In a garden in the house of love,
sitting lonely on a plastic chair
The sun is cruel when he hides away,
I need a sister - I'll just stay

A little girl, a little guy
in a little church or in a school
Little Jesus are you watching me
I'm so young - just eighteen
She, she, she, she Shine On
Shine On
Shine On
In a garden in a house of love,
there's nothing real, just a coat of arms
I'm not the pleasure that I used to be
so young - just eighteen
She, she, she, she Shine On
Shine On
Shine On

I don't know why I dream this way
The sky is purple and things are right every day
I don't know, it's just this world's so far away
But I won't fight and I won't hate
Well not today
Shine On...


Shine On’, Apoptygma Berzerk (or. House of Love)

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

Pausa (nos dias que correm)

Ontem, Palma no casino do Estoril. Duas horas recheadas daquele espectáculo que o Jorge Palma tão bem sabe criar e oferecer. Esteve muito bem…

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©

Hoje abala-se para terras da lezíria do Tejo. Presença de sol e lua apenas; complementando-se, completando-se.

Se eu fosse compositor
Compunha em teu louvor
Um hino triunfal
Se eu fosse crítico de arte
Havia de declarar-te
Obra prima à escala mundial
Mas não passo de um homem vulgar
Que tem a sorte de saborear
Esse teu passo inseguro
e o paraíso no teu olhar


Dá-me Lume’, Jorge Palma


Bom fim de semana.

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

Em chegada

Toda a espera tem um fim. Depois, talvez, o relógio recomeça.

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clock exploding, salvador dali


"I know 'cos I've seen it
It was great and I want it
There's no point in sitting
Going crazy on my own
Do you know what
I was put here in this world for
Could you tell meIn three words or more
It's the only way of getting out of here
It's the only way of getting out of here
Take a lesson
From the ones who have been there
"

'Modern Way', Kaiser Chiefs

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Próprio

Um olhar reduz ao nulo a distância entre olhos que se olham. Um olhar que apodera com ternura os olhos do outro, um olhar que entrega de igual os seus sem nada em troca pedir; dádiva quase perfeita ou perfeita na imperfeição do que é possível. Só assim pode ser.

Lábios que se tocam, trocam, tecem cumplicidades e trocam de dono. De outra forma impossível de suceder.

Dois corpos e dois corpos apenas que comutam proprietário, nunca deixando de serem eles mesmos. Como o inverso?

Isenção quanto desprendimento, nada pode ser mesquinho, tudo deve ser real; real porque verdadeiro. Também hoje não te esqueço; até sempre…

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kiss, gustav klimt


Je suis ton pile
Toi mon face
Toi mon nombril
Et moi ta glace
Tu es l'envie et moi le geste
T'es le citron et moi le zeste
Je suis le thé, tu es la tasse
Toi la putain et moi la passe
Tu es la tombée moi l'épitaphe
Et toi le texte, moi le paragraphe
Tu es le lapsus et moi la gaffe
Toi l'élégance et moi la grâce
Tu es l'effet et moi la cause
Toi le divan moi la névrose
Toi l'épine moi la rose
Tu es la tristesse moi le poète
Tu es la Belle et moi la Bête
Tu es le corps et moi la tête
Tu es le corps. Hummm !
T'es le sérieux moi l'insouciance
Toi le flic moi la balance
Toi le gibier moi la potence
Toi l'ennui et moi la transe
Toi le très peu moi le beaucoup
Moi le sage et toi le fou
Tu es l'éclair et moi la poudre
Toi la paille et moi la poutre
Tu es le surmoi de mon ça
C'est toi qu'arrives des mois si ?
Tu es la mère et moi le doute
Tu es le néant et moi le tout
Tu es le chant de ma sirène
Toi tu es le sang et moi la veine
T'es le jamais de mon toujours
T'es mon amour t'es mon amour

'Le toi du moi', Carla Bruni

terça-feira, 25 de julho de 2006

Minúcias...

Partir rasga marcas indeléveis. Quem disse que chegar, ao regresso, não?

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©

Heaven kicked you out
You wouldn't wear a tie
Staring at some pictures by yourself
At something that you want to have but will never get

Going nowhere
Going nowhere
Going nowhere
Going nowhere

You get drunk every night
You can't get drunk on life
Shouting at the world you'll never change
But it's what's inside you've got to rearrange

Going nowhere
Going nowhere
Going nowhere
Going nowhere

Heaven kicked you out
Heaven kicked you out
Making up for what you never had
Losing every single thing you've ever had

Going nowhere…


Nowhere’, Therapy?

domingo, 23 de julho de 2006

"Ride the tiger..."

Após umas férias, qualitativamente de luxo e sobre as quais decidi ainda não piar, a semana que se lhes seguiu trouxe consigo o tão esperado concerto de Pixies. Tão esperado para alguns… entenda-se que o Atlântico esteve muito aquém da sua lotação e os números foram uma surpresa por tão baixa receptividade ao agrupamento de Boston. Consta que houve outra banda com a pretensão, além da pretensa publicitação aos seus eus, de alimentar as expectativas face ao nome de cartaz que realmente importava. Vicious Five, lusos em palavreado anglo-saxónico, e não acrescento nada mais evitando assim denegrir a imagem dos ditos senhores.

Se o primeiro Super Bock/ Super Rock havia já trazido estes senhores tão sui generis da música americana, deste concerto fica a relembrança e algum acrescento aos ávidos ouvidos dos seus ‘militantes’ por, obviamente, ter sido consideravelmente mais longo – logo, evidente, mais músicas… O estilo sempre inconfundível, igual, iguais a si mesmos; quanto à forma escusam-se as destrinças entre os dois concertos a que assisti (infelizmente escapuliu-se-me, se não me falha a memória quanto à precisão na data, o de 1991). Interessa que o palco resistiu ao avultado peso do senhor Frank Black e que nem mesmo a figura de dona de casa – com os devidos direitos de autoria, a este ‘apupo’, reservados a um caro amigo aqui do dono do tasco – à antiga maculou a prestação no desempenho da arte, mestra, da sonoridade de Pixies; talvez tenha pecado o volume excessivamente elevado, facto que certamente se deve a uma audiência expectada três vezes superior – Sim, foi realmente muito espartana aquela audiência…

A companhia, seja-lhe dada a devida consideração, esteve ao nível do espectáculo. Em circunstâncias especiais terá estado mesmo bem acima.

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Radicalmente em inversão de tema, tenho vindo pouco aqui. Muito pouco. Mas agora as obrigações são algumas; e também a paciência, sempre a paciência…, escasseia. A ver vamos.

Encerro o post, bem insípido que o sei sem duvidar, com a letra do meu, ou dos meus…, tema de eleição destes senhores da tal cidade americana:


Ride, ride, ride, ...
Stuck here out of gas
Out here on the Gaza Strip
From driving in too fast
Let's ride the Tiger down river Euphrates
Ride, ride, ride, ...
Dead sea make it float
One sip from the salty wine
Dead sea make you choke
Let's ride the Tiger down river Euphrates


River Euphrates’, Pixies

sexta-feira, 7 de julho de 2006

Interregno

Por uns dias. Ou umas noites, sete. Parto. Destino férias de sonho no jardim do Atlântico. Longe, com o mais próximo bem perto…

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segunda-feira, 3 de julho de 2006

Anátema

De nós próprios.
De ser. De existir.
Da realidade cuja paridade nivela por defeito; ou dela, derivado, assim nivelamos.
Do nulo ser que se apresenta e representa a forma do asco. Do vazio.
Do vazio que não preenchemos porque jamais seremos hábeis para efectuar tal tarefa.
Da inutilidade mascarada que todavia não desaparece da transparência translúcida da imagem espelhada daquelas vidas que se levam.
Do desespero que somos nesta senda em que o não ser evocaria para um futuro a vir melhores memórias.
Do zero, mesmo que dele não queira descer.

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sexta-feira, 30 de junho de 2006

(re)Começo

Desde muito cedo, miúdo, aprendi que o caracol transporta a casa às costas; numa acepção abrangente tanto quanto totalizante do termo em si. Casa, não só o espaço que habitamos como também aquele em que experienciamos uma panóplia de vivências. Casa, no sentido residente que abarca tempos do passado ao presente que, por si, prevê as reentrâncias dum futuro, seja próximo ou direccionado a algo vincadamente mais remoto. Casa, moradia estável de presenças físicas e emoções, dos tumultos mas também das complacências confinadas ao trabalho do cérebro de cada um, de cada qual, em unicidade ou em partilha cúmplice. Esta casa não o é num entendimento extemporâneo, antes toda a bagagem que é transportada massivamente e que é constitutiva na premissa holística, logo irredutível às partes, da unicidade dos seres que ainda assim, na diferença, se assemelham pelas virtudes e vicissitudes da espécie que inapelavelmente comungam. A casa, definição estreitada, permite-se à transposição, à permuta; casa, lógica mais ampla, é igualmente pessoal e intransmissível, não sujeita ao mercado de troca mas objecto que, goste-se ou não, transportamos, tal caracol, às costas num encadeamento que se entrosa do princípio ao final de uma única exclusiva existência. Nesta derradeira definição já ninguém se pode permitir fugir dela, açambarcadora no monopólio do que somos e, assim implicado, seremos. Perspectiva demasiado positivista, determinada, mas perante esta não encontro outro facto senão o de me render à condição do que realmente é inalterável por natureza.
Se por um lado este recanto assume os termos de nova moradia, por outro implica o determinante de toda uma continuidade previamente gerada. Podemos certamente, como amiúde se constata, promover a troca de uma por outra; não podemos, na mesma medida, repudiar em rejeição aquela que nos acompanha pois que a somos e a construímos em silêncios ou no grito mais espampanante, sós ou em partilhas mais ou menos profundas, por vezes tão profundas que a (con)fundimos com a de outrem…
Sem que o objectivo seja a redundância troca-se de casa permanecendo nela, nela aquela da qual não nos podemos desembaraçar sem nos desembaraçarmos do que é próprio, sem nos desembaraçarmos do desprendimento do tudo tão pouco que somos.

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"I know so many people who think they can do it alone
They isolate their heads and stay in their safety zone
What can you tell them?
What can you say that will make them defensive?
Hang on to your ego
Hang on but I know that you're gonna lose the fight
They come on like they're peaceful but inside they're so
uptight
They trip through the day and waste all their thoughts at
night
Now how can I say it?
How can I come on when I know I'm guilty?
Yeah, hang on to your ego
Hang on but I know you're gonna lose the fight"

'Hang on to your ego', Frank Black