segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Contagens

E assim se termina e encerra um ano. Começa outro. Continue-se; porque livres juntos.


"Toda a guerra é baseda no engano."

'A Arte da Guerra', Sun Tzu

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Dois patinhos

Desconheço a origem deste dito popular, que dois dois, um a seguir ao outro ou ao inverso, pois que este número capicua, se conheçam como sendo os 'dois patinhos'. O que é certo é que hoje arrecada sentido especial. Só dois, neste dia de vinte e dois; dia, por pertença, dos dois. Podemos trocar de lugar que pouco importa, seremos na mesma dois, os dois. Aos vinte e dois quero tanto quanto sempre os dois juntos, a ordem não é relevante já que nos saberemos sempre ler; semelhantes, porque apenas quase iguais nas diferenças que nos unem; semelhantes, porque inerentemente iguais noutra união que é a da partilha unificada que atravessa transversalmente todas as similitudes que evocam comunhão.

Vinte e dois, par orgulhosamente só na modéstia de quem não está nem estará em vivência isolada. Não é bom estar-se junto sem companhia alheia? Sim. E não. É bom estar-se só com e junto em. Como são delicadas mas tão fortes isoladas conjunções; com mundos de gentes, tanto quanto como na unicidade que, juntos, nos torna singulares.

©


All that you touch
All that you see
All that you taste
All you feel.
All that you love
All that you hate
All you distrust
All you save.
All that you give
All that you deal
All that you buy,
beg, borrow or steal.
All you create
All you destroy
All that you do
All that you say.
All that you eat
And everyone you meet
All that you slight
And everyone you fight.
All that is now
All that is gone
All that's to come
and everything under the sun is in tune
but the sun is eclipsed by the moon.

«There is no dark side of the moon really. Matter of fact it's all dark.»

'Eclipse', Pink Floyd

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Outros lugares...

Mais algumas horas apenas e parte-se. Rumo a outra cidade. Rumo, nesta ida, à Covilhã.
Horas de trabalho, investimento, mas também de lazer, pagode.
A primeira paragem é na cama; o restante do roteiro continua-se de seguida.
Até já...



"Well we know where we’re goin’
But we don’t know where we’ve been
And we know what were knowin’
But we cant say what we’ve seen
And were not little children
And we know what we want
And the future is certain
Give us time to work it out

We’re on a road to nowhere
Come on inside
Takin’ that ride to nowhere
We’ll take that ride

I’m feelin’ okay this mornin’
And you know,
We’re on the road to paradise
Here we go, here we go


[...]"


'Road to Nowhere', The Talking Heads

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Tão simples...

Quantas vezes nos esquecemos, guardadas para nós num mutismo ignorante, de verbalizar coisas simples e tão simples que, amiúde, as temos como garantidas? Mais do que devíamos, creio. É fácil não lembrar, mesmo quando não esquecemos; humanos demasiado humanos, diria um mestre... Mesmo assim, nada é garantido; nem mesmo o dia de amanhã. Não se trata de um fatalismo obstruso, antes, quiçá, de uma realidade provável.
Apetece-me sair desse casulo do silêncio, dizer-te sem meias palavras o espéctaculo com que a natureza te prendou; e, noutra medida, a mim também. És linda, sabias? Nunca a memória se encerra na omissão do facto que se constata, mas prende a mente a sua exteriorização que tão afiançada guarda para si. Quero também que não te permitas a tamanho olvidamento, que saibas pelo meu saber o quão bela te acho, o quão bela és aos melhos olhos, o quão real é a tua beleza. Podias sugerir que é o meu olhar, deformado por imperfeições a si inerentes quanto a outras tantas que do exterior desfocam a lucidez de quem vê, mas sabes que não. Que mesmo no meu silêncio são estes meus olhos que te comunicam, num esgar ou vislumbre contínuo, o que a boca, menos por desleixo do que pela tácita certeza do facto, teima em excesso não enunciar ou exprimir com a clareza de quem fala imune a ruídos comunicantes. A tua face que enleia os meus sentidos, com os teus olhos melados a mel pintados, os teus lábios que permitem escapar um sorriso embriagante, a tua testa incapaz de esconder outra belezas ocultas, essas orelhas que são o refúgio dos ouvidos que me escutam, o teu nariz que me toca gelado numa imensidão de brasas. O teu corpo, que tão bem corresponde aos predicados dessa natural beleza, toscamente por mim descrita, como à que se constrói em torno de todo o teu eu. Porque ficam tantas vezes, demasiadas, por declarar as palavras que mereces e que tão bem te descrevem? Temos medo da repetição, o receio de babar palavras que assim se tornariam, tolo receio, banais. Consequência, calamos em excesso aquilo que não se deixa babar pela banalidade, esquecemo-nos que estamos esquecidos de dizer. Rompo com o vício desse círculo, exalto-te: és linda, sabias? És mesmo. Princesa no teu reino, não me esqueci.
É tão simples. Tão simples dizer que. Diz-lhe.


"Oh I, I just died in your arms tonight
It must have been something you said
I just died in your arms tonight

I keep looking for something I can't get
Broken hearts lie all around me
And I don't see an easy way to get out of this
Her diary it sits on the bedside table
The curtains are closed, the cats in the cradle
Who would've thought that a boy like me could come to this

Oh I, I just died in your arms tonight
It must've been something you said
I just died in your arms tonight
Oh I, I just died in your arms tonight
It must've been some kind of kiss
I should've walked away
I should've walked away

Is there any just cause for feeling like this?
On the surface I'm a name on a list
I try to be discreet, but then blow it again
I've lost and found, it's my final mistake
She's loving by proxy, no give and all take
'cos I've been thrilled to fantasy one too many times

[...]"

'(I Just) Died In Your Arms', Cutting Crew

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

L'Année XXI

O dia nascera ainda era de noite. Não seja de estranhar, no nosso plano geográfico assim é sempre. Foquemos, porém, outros cuidados que não este. Germinava novo dia, sol cortinado pela noite. O Óscar, senhor mocho de carvão parido, contemplava no corredor, olho inevitavelmente arregalado. Do alto do chão, onde tem poiso e altar, percebia as movimentações inquietas polvilhadas, a condimento, por um frenesim a meio que encoberto. Sabido, este recente nascituro que alcançava o significado de tal circunstância; restava-lhe ainda, à circunstância, devida pompa. De pajem se passa a cavaleiro, assim ditam os olhos que também assim querem olhar. Montava garupa buscando pela essence de femme; perfume de mulher, traduzindo com eloquência mais que merecida: por ela, mulher princesa, do que pela essência construída mesmo que adequada. Encontrou igualmente o nosso cavaleiro correspondência dedicada àquele ser que amava com pureza acima de qualquer outro semelhante: aliás, aí residia, sabemo-lo, o segredo desse ente, a unicidade de ser único; única.

Às primeiras badaladas dos primeiros minutos do ano XXI reencontrou-se com a sua musa, com aquele especimen tão adorado; exclusivo, dissemo-lo. Sussurrou-lhe palavras doces que se viam legitimadas pelos gestos meigos que as acompanhavam, em sintonia harmoniosa de coisas e pessoas que se complementam; que crescem na incessante procura de, juntas, se completarem. Os homens dão um nome a este sentimento, encontram formas de o endeusar por ser seiva que escorre dos próprios deuses. Momentos que gotejavam felicidade ao mesmo ritmo que pálpebras pestanejam, dança idílica maravilhosamente semelhante ao cintilar dos astros que desta maneira trocam, em dádiva, as suas cumplicidades. E o cavaleiro é prendado por sorriso que faria corar de inveja aqueles que a lua tece, pela ternura que acalenta uma alma como a fogueira preenche com o seu calor os mais destemidos que se lançam à aventura ao largo de espaços abertos do desconhecido.

Abraçados, amavam-se e disso tinham consciência. As suas preces ao alto destinavam-se a agradecer essa divina oferenda que o cosmos a eles havia montado em magistral esquisso. O escuro do dia era para durar, restavam horas até que a aurora despontasse. Num leito ninho, mais alto que aqueles das aves de rapina das montanhas, não menos distinto que os do monte Olimpo, alimentavam a sua fábula vivida no real. Encostavam cabeças com ternura, enroscavam pernas e braços como se, ávidos, de dois quisessem que apenas um único ser, roçando a perfeição que tão negada é ao mundo empírico, resultasse em fusão dos seus esforços realizados sem esforço. Também a noite do dia os abraçou, num sono profundo e descansado, sabendo-se ali um com o outro.

Quem diz que as estórias são estórias, fábulas inconcretizáveis no mundo real dos adultos?




Encosta-te a mim, nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim, talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim, dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou, deixa-me chegar

Chegado da guerra, fiz tudo p'ra sobreviver
em nome da terra, no fundo p'ra te merecer
recebe-me bem, não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói, não quero adormecer

Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim

Encosta-te a mim, desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for

Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer

Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim


'Encosta-te a Mim', Jorge Palma

domingo, 7 de outubro de 2007

E aos vinte...

... temos a mania que somos crescidos, gente adulta que faz por si própria e não quer saber ouvir pois que diz que não precisa nem doutrem nem de opiniões estranheiras aos seus egos.
No seio desta surdina atabalhoada dos pequenos reis crescidos, eis que surgem aqueles que crêem ter ainda muito por aprender, que podem ser bravos e orgulhosos, mas também humildes e modestos. Também estes nos vinte. Porém, sem a necessidade de cobrar ao mundo, como os demais empertigados, obra que lhes devesse. Esses sabem viver, procuram a vida ao invés de esperar que seja esta a vi ter consigo. É por isso que hão-de contar muitos mais vintes e muitas menos frustações: amam-me a si próprios, não narcísicos mas apolos comedidos: sabem do sol e da sombra. É por isso que as estrelinhas continuam a poeirar com os seus resíduos cósmicos estórias de brilho irreprimível...


©


"Num dia frio de Inverno,
um grupo de porcos-espinhos tinha-se mantido unido
para se defender mutuamente do gelo
por meio do seu próprio calor. Mas ao mesmo tempo sentiram
os golpes dos seus picos o que os fez afastarem-se
uns dos outros. Quando a necessidade de se aquecerem
os aproximou de novo, o mesmo incoveniente ressurgiu,
de modo de bambaleavam entre os dois
sofrimentos."

'Parerga et paralipomena', Arthur Schopenhauer

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Vai miando, vai...

- Quem disse 'gato velho'?...
- Pronto, ainda de garras e dentes afiados... alguns...


"O facto de os indivíduos contemporâneos serem «individualizados» não significa que gostem de estar sozinhos, que o seu sonho seja a solidão."

'Uns Com os Outros', François de Singly

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

O que nasce torto sempre se endireita...

Há dias de viragem, marcos que se vincam através da ordem simbólica; a tentação é de predicá-los como ruptura no quotidiano. Hoje é um deles.
Por fim rompe uma motivação afincada. Profere-se, quase clamando, que há clientela. Inaugura-se. Inaugura-se uma nova época que se auspicia em prosperidade. Certamente o será. Agora, a par do mérito que se lhe reconhece, congratulem-se vencedores - em particular, aquele que desbravou o primeiro terreno na árida selva.
Em simultâneo, curiosidade das coisas boas que parecem também gostar de companhia, concluí igualmente hoje o plano curricular. Lançada em pauta a derradeira e tão esperada nota, razoável até. Agora é cabeça voltada para a dissertação tanto como para essa selva não mais virgem. Obviamente, nunca esquecendo (quem é) o essencial, sempre presente.



"If, among all these fields of possibles, none is more obviously predisposed to express social differences than the of luxury goods, and, more particulary, cultural goods, this is because the relationship of distinction is objectively inscribed within it, and is reactivated, intentionally or not, in each act of consumption, through the instruments of economic and cultural appropriation which it requires."

'Distinction', Pierre Bourdieu

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Loser!

Às vezes apetece desistir. Nenhuma opção se desvela adiante. Não creio. Até ao lavar dos cestos... nem que seja à força de espada.



"[...] o terceiro [objectivo], em teorizar e, paralelamente, empreender a reconstrução de problemas levantados pelo carácter - sempre incómodo - das ciências sociais, no que toca ao «objecto de estudo» que essas «ciências» pressupõem: a actividade social humana e intersubjectividade."

'Novas Regras do Método Sociológico', Anthony Giddens

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

'Index' XIX

- Lê tu.
- E em voz alta. Que assim devem estas histórias de ser contadas.



"O luar quando bate na relva
Não sei que coisa me lembra...
Lembra-me a voz da criada velha
Contando-me contos de fadas.
E de como Nossa Senhora vestida de mendiga
Andava à noite nas estradas
Socorrendo as crianças maltratadas...

Se eu já não posso crer que isso é verdade
Para que bate o luar na relva?"

Alberto Caeiro


Outras mais histórias rodam luares que namoram de roda de chás exóticos...

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Antinomias

- Lua cheia.
- Sim. Gozando do vazio de alguns.


moon light, 1895, edvard munch


"Talvez por não saber falar de cor, imaginei
Talvez por não saber o que será melhor, aproximei
Meu corpo é o teu corpo, o desejo entregue a nós...
Sei lá eu o que queres dizer...
Despedir-me de ti, «Adeus, um dia voltarei a ser feliz.»

Eu já não sei se sei o que é sentir
O teu amor não sei o que é sentir
Se por falar, falei
Pensei que se falasse
era fácil de entender...

Talvez por não saber falar de cor, imaginei
Triste é o virar de costas, o último adeus
Sabe Deus o que queres dizer...
Obrigado por saberes cuidar de mim, tratar de mim, olhar para mim...
Escutar quem sou...
E se ao menos tudo fosse igual a ti...

Eu já não sei se sei o que é sentir
O teu amor não sei o que é sentir
Se por falar, falei
Pensei que se falasse
Era fácil de entender...

Eu já não sei se sei o que é sentir
O teu amor não sei o que é sentir
Se por falar, falei
Pensei que se falasse
Era fácil de entender...

É o amor que chega ao fim
Um final assim,
assim é mais fácil de entender...

Eu já não sei se sei o que é sentir
O teu amor não sei o que é sentir
Se por falar, falei
Pensei que se falasse
Era fácil de entender...

Se por falar, falei
Pensei que se falasse era fácil de entender.
Eu já não sei se sei o que é sentir
O teu amor não sei o que é sentir....
Se por falar, falei

Pensei que se falasse era fácil de entender...
"

'Fácil de Entender', The Gift

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Desde já, até mais

Escurece. É a noite. Coisa normal. Escurece, todavia, em demasia. Os irrecordados medos de criança face à escuridão reemergem. Onde estás tu, dia? Quero-te, com a manhã que te anuncia mais forte até novo ocaso. Raspaste-te e cá sozinho me aguento. Não tenho medo, asseguro firme; firme na certeza de que minto, na necessidade de uma mentira protectora que nos impede do descambamento num real ainda mais irreal que a suposta realidade a que lhe atribuem nomes, convencionada e adjectivada quase hiperbolicamente por aqueles que mais temem do que uma criança prostrada ao escuro.
As saias das mães não mais são suficientes para nos amparar desses medos cáusticos impostos por esse negrume degredo da escuridão. Faltava só relampejar…
Assim, obriga-se à luz. Não natural. Essa, dos candeeiros que, tão pardacentamente vão alumiando esquinas e becos nas trémulas mentes, feitos brejeiros destemidos se sentem mais importantes que o sol. Loucura hiper-realista, talvez. Não quero dormir, entregar-me a esses trabalhos oníricos que a bel-prazer brincam com os meus neurónios, quero sim estar desperto para os acontecimentos: ainda os há, não desrespeitando as opiniões dos cépticos. Busco, portanto, pelo acontecimento. Pressinto que o haja para outrem, não o auguro para mim, impossibilitado por míngua de crença na razão e na sensibilidade mais directamente provinda dos sentidos. Quando a nova aurora? Tenho sono, faz-me falta repousar a ossada. Outro dia, talvez; mês, ano… Fervorosamente pouco esperançoso, sem querer entrar por caminhos de contradição. Não me interessa, a mim, o novo homem; sim, o novo dia – Haverá previsões?
Sem cabalas assume-se o que há para assumir, sem receios outros que não aqueles que a mente nos possa pregar. Em súmula: Estou mesmo a precisar de férias… ou estou mesmo a necessitar de corromper a mente com mais trabalho, uma parafernália dele.

l'eclair, 1868, victor hugo



"esta é sobre ti
tem amor e ódio
é para ires ouvindo nestas horas d'ócio
ínfima parte de um sonho perdido
libertei-o, ja o tinha esquecido
é um sinal...
espero o momento na sombra da rua

ouço uma voz que me lembra a tua
passei pelo risco de sofrer
por não ler os teus sinais
é um sinal... para recomeçar...

quero ver gente, quero ver a terra
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera

leva-me as areias quentes
que me instigam os sentimentos
que me deixam nua perante os elementos
ensina-me a escavar objectos sem estragar
para que sorrir seja sempre vulgar
dá-me de beber, finas gotas desse mel
para que o meu saber não esteja só no papel
incita-me a lembrar
o teu gosto pelo mar
para que um dia fique pronta a zarpar
esperar que amanhã tudo seja diferente...
e tu possas estar presente...

quero ver gente, quero ver a terra
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera

incita-me a atirar os dados sem soprar
quero-te dizer seja vulgar...
quero ver gente, quero ver a terra
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera

incita-me a atirar
para recomeçar...
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera"

'Esquecimento' Mesa

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Ver

Ainda pouco passa do meio-dia, já sei.

©

"Por outro lado, estabelecer com precisão o estado da questão que se estuda também é, geralmente, um procedimento central de investigação."

'Práticas e Métodos de Investigação em Ciências Sociais', Luc Albarello, Françoise Digneffe, Jean-Pierre Hiernaux (et al.)

Second Best...

E Pronto. Desde ontem que, nova aquisição, tenho novamente o que com esconder os olhos. Não será propriamente a mesma coisa, aliás, a distinção é bem evidente. Uma espécie de ruptura, um entrar noutra esfera deste nosso real vivivo. Porém, sempre servem, que outra coisa não se esperaria, para cobrir as janelas da alma das outras almas do mundo. Pronto, também podem e devem ser utilizados para protecção solar e de claridades mais intensas.




©


"There's something I can't see
Something living in the way you smile
Behind those eyes you lie
And theres nothing I can say
Cause I'm never gonna change your mind
Behind those eyes you hide"

'Behind Those Eyes', 3 Doors Down

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Ontem, um dia como (todos) os outros…

Escurece e adormeço. Deitado, estirado na cama. Exaustão provinda de cansaços vários. Não recordo sequer qualquer luz acesa, fosse do candeeiro do lado, assente em mesa de cabeceira, ou dos holofotes pregados no tecto, mirando três direcções mais ou menos distintas. Com a roupa que trazia vestida no corpo, despojo de um dia. Pancada forte. Um livro de metodologia e um caderno de notas repousam à direita, pela esquerda o portátil desligado mantendo um precário equilíbrio, posto ao alto, entre os rebordos da cama e os alicerces do chão de madeira. Não estou cá. Fugi. Algures nos meus sonhos vou correndo cenários, cenários já esvaídos da memória. Cenários urbanos, só podia. Quem te disse que era correcto teres-te definido como pária urbano? Efeito boomerang, arranjaste a bronca agora suporta-a; e sem queixumes, para quê, aliás?
Às duas, não precisamente às duas, mas por aí, o telefone toca. Acorda-me. Vejo o número. Ligo de volta. Já estou acordado? Uma voz mais humana do que a minha atende. As notícias não são boas, mas, credo, muito longe do catastrófico. Tenta-se ver a realidade tal qual ela é. É mau, mas resolve-se num instante, vais ver; já sabemos do que se trata, se não soubéssemos seria, talvez aí sim, mais alarmante. Nada catastrófico, já o escrevi, mas sempre desassossega. Olho o relógio. E outro. E mais outro ainda. Que horas seriam ao certo? Dou agora conta do livro e do caderno, do computador quase caído a um fio de se estatelar redondo no pavimento. Nem lhes toquei.
O sono foi-se, a cabeça matuta preocupações que em breve estarão sanadas, apenas a representação do pária urbano se mantém de pé firme. A opção é não voltar a dormir. Vai-se para o outro computador, no escritório. Irmão grande do primeiro, pelo menos di-lo-ia observando o absurdo na discrepância das dimensões, o espaço que ocupa mais do que a triplicar. Fazem quase o mesmo, mal se notam as diferenças e é quando se notam; todavia, que faces tão diferentes. O corpo queixa-se, dói a cabeça; não quer, todavia, descansar o que nela mora, cérebro electrizado pelos últimos estímulos que o açoitaram.
O mail é a primeira coisa que se vê, ou não vê que não há. Distribuem-se janelas com browsers de internet a mostrar páginas e mais páginas. Olho o blog e prometo-lhe pela enésima vez que um dia apago-te e pronto, ameaça sempre reiterada e nunca cumprida. A secretaria virtual da faculdade, raios partam que não há maneira de lançarem as notas que sobejam… já cansa e quero terminar o plano curricular, arrumá-lo de vez sem que lhe volte a pôr nem olho nem atenção alguma em cima. Outras tantas páginas, percorrem-se por elas olhares que o são em molde aleatório. A atenção prende-se e desprende-se, diversificada como também são os conteúdos e sentidos das páginas remanescentes. A internet é perfeita para um pária. Tudo é casa como tudo é estranho. Quero lá saber. Mas quero…
É vez de me virar para o i-tunes e pôr a playlist a correr. Músicas em tons desiguais e línguas múltiplas, também aqui, observo, ninguém se entende; esta casa também não é a casa delas, sendo; imitadoras; que coisa esta de, por seu turno, também quererem ser párias. Penso dizer-lhes que não vale a pena, contudo estou já demasiado acordado para dialogar com músicas. Não tenho sono, não tenho igualmente a certeza se estou de facto acordado; estarei tão somente a ser mimético, acordado por procuração? Seja como for, faço por arredar a ideia do pária. Afinal não se tratará de coisa excessiva, uma obsessão compulsiva auto-induzida, cujos contornos desagradáveis acabam obtendo algum gáudio por um processo de vitimação? Sei lá. Falta de sono. Cama vazia. Sítios errados. Repouso em míngua, inconsistente. Penso que a Lua existe. Mais cheia, certamente, para os lados do sul, bem mais a sul. Aí brilhará mais vistosa, tal como é. Mas também aqui existe, não menos vibrante, também aqui a sinto por perto. Menos prosaico, penso terminar o trabalho que resta entregar, em afinar o projecto de tese como me encomendaram. Com prudente sensatez e seriedade penso no trabalho e na altura de começar a obter ganhos, lucros, facturar… Esta noite foi quase igual, copycat.
Preciso de férias.

untitled, 1981, jean-michel basquiat



I'd only come here seeking peace.
I'd only come here seeking me.

In your dream you see me clear
I have no restraint, no fear
Powerless I watched from faces I'd assumed.
My purpose set. My will defined.
Caress the air.
Embrace the skies.
Escape the sorrow and restraint of mortal cities.

Give me time I will be clear.
Given time you'll understand
What possesses me to right what you have suffered.
I'm in this mood because of scorn.
I'm in a mood for total war.
To the darkened skies once more and ever onward.
There is no faith in which to hide.
Even truth is filled with lies.
Doubting angels fall to walk among the living.
I'm in this mood because of scorn.
I'm in a mood for total war.
To the darkened skies once more and ever onward.

(…)

I'd only come here seeking peace.
I'd only come here seeking me.


Darkangel’, VNV Nation (Das Ich mix)

terça-feira, 7 de agosto de 2007

1 e ½

Ponto de viragem, algures entre o um e o dois. Bem vistas as coisas, poder-se-á dizer que não é nenhum dos dois. E com razão. Um e meio é pertença do seu momento. Claro, consigo carrega a memória do que o antes trouxe. Claro também, ousa carregar o que ainda não faz parte das memórias guardadas mas que entrevê memórias construídas num tempo por chegar. Obstinadas, tanto se desejam. Porém, no presente, o vivido é o que se disse. E é este vivido que agora se exalta não deixando de exortar aquilo que foi como aquilo que será.

©



You write a little note that
You leave on the bed
And spend some time dissecting
Every word he said
And if he seemed a little strange
Well, baby - anyone can change
And you do
You do
You really do


You Do’, Aimee Mann

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Perdas Escuras – melancolia…

Há dois dias aconteceu um episódio que me deixou triste, bastante triste. Em simultâneo fica-se incrédulo, depois desesperançoso e, enfim, desiludidos connosco. Entre um passeio de uma casa até à faculdade, terminando nos jardins da Gulbenkian. E os meus óculos de sol, companheiros de mais de três anos, finaram-se por ali. Pode parecer imberbe esta atitude, mas nutria um carinho muito especial por aqueles óculos. Agora nunca mais os verei senão na memória física que os retratos deixam.
Estranho, o dia, esse, com o iniciar da noite correu bastante bem. Terminou melhor ainda.
Hoje, ainda não refeito dessa imberbe tristeza como a maioria considerará, despeço-me deles e aqui os coloco em imagem a toque de cerimónia fúnebre. O pior é que aqui os coloco com mágoa e desilusão que me pesam nos ombros e que aponto a outros.
Imberbe, este post. Diga quem o quiser. Pesaroso de fazer gemer, sinto eu. E a mágoa mais a desilusão com a perca e com algumas pessoas…



©

There’s a place where you are going
You ain’t never been before
There’s no one laughing at your back now
No one standing at your door
Is that what you thought love was for?

Baby I’m a lost
Baby I’m a lost
Baby I’m a lost cause
I’m tired of fighting
I’m tired of fighting
Fighting for a lost cause

Lost Cause’, Beck

terça-feira, 24 de julho de 2007

«My Man...»

- 'Bora?
- F-15, F-17.





"I can't do it
I can't conceive
you're everything you're trying to make me believe
cause this show is too well designed
too well to be held with only me in mind
And how am I different?
How am I different?
How am I different?
I can't do it
so move along
do you really want to wait until I prove you wrong?
And don't tell me -let me guess"

'How Am I Different', Aimee Mann

sábado, 14 de julho de 2007

(re)verso...

- ... E o medo de falhar?
- De que outra forma vontade de conseguir realizar?

morning girl at bedside, 1884, edvard munch


"These practices together comprise what can be called the underlife of the institution, being to a social establishment what an underworld is to a city."

'Asylums', Erving Goffman

sábado, 7 de julho de 2007

Deza... seta (17)

- Olhas p'ra onde?
- P'rá Lua. Rainha lá em cima. Princesa ao lado.




"O centro comercial fechou
a Maria vai viver a vida mais longe
longe das ilusões
em cima das situações perigosas

O Tóino não morreu no mar
acabou de adquirir um castelo na Escócia (enfim)
não é bem na Escócia
é numa cave sombria em Gaia

O passado já lá está, raio duma sorte cinzenta
e o presente é uma réstia de esperança enquanto houver saúde
há que cuidar do aspecto, fazê-lo parecer natural
por mais que seja cruel, não há ninguém que ajude

Ninguém nos ensinou a usar
nada do que recolhemos pelo caminho
perto das ilusões
entre o amor e as razões perversas

O passado já lá está, raio duma sorte cinzenta
e o presente é uma réstia de esperança enquanto houver saúde
há que cuidar do aspecto, fazê-lo parecer natural
por mais que seja cruel, não há ninguém que ajude

O centro comercial fechou
"

'O Centro Comercial fechou', Jorge Palma


Crescem as ilusões que aprendemos a saber fazer brotar... na rotina, no quotidiano, longe dele, em tudo o que rodeia, se experencia, vive.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Terna melancolia

Sempre fui de escassa paciência nas questões de manutenção técnica do blog. É uma evidência que em nada me preocupa. Hoje, porém, tentei actualizar um pouco mais as linkagens, objectivo que perseguia faz bastante mas cuja não consumação se explica pela tal paciência; falta de. Contudo, foi suficiente para que prestasse atenção a duas curiosidades. Primeiro que faltam três dias para que conte um ano desde que mudei bagagens da weblog para aqui; segundo, este blog foi criado num dia 27, Janeiro de 2004 – bem mais velhinho do que num primeiro assomo de pensamento julgaria… afinal foram mais de setecentos posts deixados noutra ‘mala’, perdidos ou esquecidos, nunca mais recuperados senão num miserável backup guardado algures no(s) disco(s) rígido(s), ainda não inteiramente apagado pois que nem eu próprio o posso eliminar e nem o administrador da weblog se lembrou de o fazer mesmo ultrapassado em prazo de três meses entre postagens que são os mínimos ‘exigidos’ para não encerrarem o endereço de (uma) vez: ainda existe aquele na weblog, teimoso.

A velocidade de postagem é aqui bem mais vagarosa e pausada. De certo em proporção inversa à velocidade de vida, noutro ímpeto e com outra fome. Poderá dizer-se a cereja no topo do bolo, mas não; a cereja no topo do bolo será quando ambos forem memórias esvaídas e esfumadas por entre neurónios que não esquecem, quando este aqui na blogspot deixar de ter continuação: é o lugar comum dos blogues, nascem para a morte que, quanto muito, se pode ir adiando… e quando o placebo deixar de enganar o organismo coloca-se o derradeiro ponto final – não é ainda hora, estamos decididos.
Este ainda vive ou sobrevive sem carecer de máscara de oxigénio entubada à devida garrafa. O outro, defunto sem funeral… Resta a terna melancolia do que por lá ficou e que não pôde ser trazido para este novo albergue; sim, se pudesse reunia os dois sem prejuízo de nenhum. Afinal, o futuro é para onde agora, no presente impetuoso e esfaimado, nos dirigimos. Porque há trajectos, porque não foi fortuita nem alheiamente, arrecadando conceito ao acaso, que lhe chamámos trajectos. Trajectos, em solidariedade absoluta.

Nada mais acrescento, virei talvez oportuna e casuisticamente a fazê-lo. Há demasiados projectos que na escala das hierarquias ultrapassam a redacção num blog. Um blog, por mais estúpida e tola que pareça a asserção, um blog não passa disso mesmo: um blog; e um blog não se transcende. A noite vai longa, o dia irá ser de batalhas. Até mais logo.

© PmA


"Aquele que vós ontem vistes tão audacioso, não estranheis vê-lo também covarde no dia seguinte: ou a ira, ou a necessidade, ou a companhia, ou o vinho, ou o som de uma trombeta encheram-no de coragem; não é por isso um coração formado com discursos; essas circusntâncias fizeram-no vibrar; não nos surpreende vê-lo de um momento para o outro tornar-se diferente por outras circunstâncias contrárias."

'Essais, II', Montaigne


Ainda assim, há histórias que se escrevem nos céus a pó de estrelas e doutros tantos sedimentos cósmicos... Ainda assim, o intocável.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Peixanário

Ontem foi dia de visitar o Peixanário. Ver ou rever. A Amália e o Eusébio lá estavam, em busca de um sono perdido nos roncos dos visitantes; passaram por focas e castores, já ninguém respeita a condição de cada um, ora pobres lontras... O que mais se gostou foi do Peixe-Lua, que de tamanha destrinça face aos demais apenas recolhia apupos de tão feio ser; pois que o digam, eu cá adorei-o.

© PmA

[Já agora, contando que em todos os cantos do Oceanário a encontramos escrita e sendo a senhora que(m) é, cá 'enclavo' também algumas delas; palavras, claro:]

"Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar"

Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 9 de junho de 2007

Saudade genética...

Sorte tinham os antigos pois que para seu sustento alimentar apenas lhes bastava a prática da caça. Hoje para nos alimentarmos...

"Para ser digna de ter um marido bom caçador, uma mulher deve saber fabricar uma louça de qualidade para cozinhar e servir a sua caça. Mulheres incapazes de fazer louça seriam criaturas malditas."

in 'A Oleira Ciumenta', Claude Lévi-Strauss

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Parto... (gérmen ou abalada ou os dois)

De manhã, sol nascido, dormia. À tarde decidiu-se a ir passear o cão. Ia silencioso pelo terreno ajardinado, sabia-o ainda de cor, cada esquina, cada banco de madeira ou acimentado, cada pedra de calçada que irrompia de um passeio embutido à força; ajardinado, sim, um pedaço de terra relvado com arbustos selvagens que formatam o caminho empedernido delimitando-o com ares de natureza não é um jardim; terreno ajardinado, fiquemos assim. Aqui o cão o levava pela trela, por vezes parava, outras estugava o passo numa qualquer direcção, pouco importava qual: ali conhecia-as todas. E assim ia, como iria o demente errático de uma estória que tão bem sabemos, sabemos pela replicação com que nos mergulham quando estamos ainda nas primeiras infâncias e pela impostura que têm de serem chamadas de embalar. Um qualquer quotidiano, o cão pela trela; o dono com a trela; ambos, enfim, atrelados e quem ousaria dizer quem a quem? A relva desponta brilhante brincando com o brilho que treluz da estação; Primavera, não é? é pois, mas a pergunta de retórica era precisa. Tal como o cão. Retórica. Não existe. Ou existe mesmo?

Temos de saber estar onde estamos. Devíamos...

Ghost Dance at Pine Ridge

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Dez seis

O meu caro ‘amigo’ Billy reserva-se a algumas confidências acerca da ‘sua’ sweet little sixteen. Eu cá, luso e nada (re)conhecido como o mencionado ‘amigo meu’, obrigo-me por circunstância mais que variada (credo, que este parece discurso salazarista…), à despretensiosa e modesta intenção de quem parcas e loucas palavras lavra, contenho e circunscrevo o meu, digamos, cervo; a palavra, muitas das vezes exacerba e se nos exacerba mais do que a exacerbamos a ela...

Aos dezasseis… não me vou colar à lírica da música gnr’iana, puerilidade em demasia como facilmente seria sustentável. Mais além; ou aquém, coloquem vós a artilharia da vossa própria artilharia: mas não vos temo, não mais que a mim, a mim próprio – seja lá que pleonasmo aqui se aplique. Nobody’s home in a nobody’s world; sintético, mas tão sintético quanto escasso.

Que fique relembrado o melhor, desses dias há-os bastantes. Diria ainda bem ou felizmente, contudo escapo-me a esta afirmação simplista pois que, por maioria de razão, ocupam tão somente os campos de uma minoria. A grandeza, e aí reside o seu belo, é ser superior apenas pelo facto de que ganha aos demais por si própria; per si, adjuvada pela nossa vontade.

Brindai. Brindai sempre. Vezes sem conta. Dezasseis vezes ao seu expoente; ou mais.



© PmA



"The world
And the world turns around
The world and the world, yeah
The world drags me down
Oh, the heads that turn
Make my back burn
And those heads that turn
Make my back, make my back burn, yeah"

'She Sells Sanctuary', The Cult

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Police tickets...

cImperdível, claro. Estes já cá moram: em Setembro lá estaremos.


I've called you so many times today
And I guess it's all true what your girlfriends say
That you don't ever want to see me again
And your brother's gonna kill me and he's six feet ten
I guess you'd call it cowardice
But I'm not prepared to go on like this

I can't, I can't
I can't stand losing
I can't stand losing you

I see you've sent my letters back
And my LP records and they're all scratched
I can't see the point in another day
When nobody listens to a word I say
You can call it lack of confidence
But to carry on living doesn't make no sense

I can't, I can't
I can't stand losing

I guess this is our last goodbye
And you don't care so I won't cry
But you'll be sorry when I'm dead
And all this guilt will be on your head
I guess you'd call it suicide
But I'm too full to swallow my pride

I can't, I can't
I can't stand losing
I can't stand losing you

'Can't Stand Losing', The Police

domingo, 3 de junho de 2007

Sol, Sol e Lua...

Ontem primeiro dia de praia; há muito esperado, há muito adiado por temperaturas que nada pautavam pela constância. Soube bem. Apenas algumas horas, definitivamente boas horas. Hei-de querer muito, muito mais. Mais do que é bom, raras vezes apoquenta.

© IGG

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Pequerruchos...

Dia da Criança. Sejamo-la também todos algumas vezes. A sério.


"A criança tem direito à liberdade de expressão. Este direito compreende a liberdade de procurar, receber e expandir informações e ideias de toda a espécie, sem considerações de fronteiras, sob forma oral, escrita impressa ou artística ou por qualquer outro meio à escolha da criança."


Nº 1, Artigo 13, Parte I, 'A Convenção Sobre os Direitos da Criança'

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Sweet Fifhteen

Aos seus quinze anos dançava ele com Nini. Ou dançava ela só para ele. Ou ainda, talvez, um pouco das duas coisas. Aos quinze anos não dançava com quem fosse, menos ainda que dançassem só para mim. Assim foi. Ou assim pareceu ser.

Mais de quinze anos em cima. Tudo diferente. Diferente também a perspectiva de encarar a vida. Crescer? Desenvolvemo-nos, dizem. A idade da adolescência pueril foi-se, esvaída, faz muito.

Hoje o tempo conta-se de outra memória. Quinze anos é uma demasia, mesmo sabendo que aos quinze anos os achava poucos e queria mais para ser gente; gente graúda, gente miúda a querer ser gente graúda.
Hoje, adulto, quero igualmente mais. Muito mais. A diferença porém, subtil mas certamente arremetida pela idade actual. A diferença é que querendo mais quer-se mais ainda que passe devagar num devagar mais devagar. Uma ténue diferença… no fundo é sempre o mais que conta, é o mais que queremos sempre mais num mais pautado por uma exigência vincada na(lguma) experiência de quem sente ou começa já por sentir o peso dos anos e que, a todo o custo, quer ver evitado os patamares que se seguem – as idades que não voltam atrás e que vão marcando de forma expressa as rugas de expressão.

Quinze anos… Permite-me agora o estatuto, algum, de uma idade irremediável e incontornavelmente adulta compactar em parte o tempo vivido, sem carência de justificações que, essas, seriam pueris.
Quinze, então, é o que eu quero – o que nós queremos, se assim é partilhado. Não, não quero que passe tudo depressa demais. Quero ter memórias onde me ancorar sem que a veloz velocidade do tempo interfira em demasia.
São quinze, sim. Serão outros tantos, por mim podiam inclusivamente ser contados em séculos de tempo real. Quero quinze e mais quinze e outros tantos quinze. Todos. Não se trata de fome esganada, antes, convenha-se, tratar-se-á de um desejo fortemente iluminado. Quinze, onde a dança, também ela, conquistou o seu território. Queria e quero, quinze vezes quinzes, dançar nesta partilha de experiências de vidas vividas; vivenciadas. Com a rotina e a novidade de cada batuque do tempo, a cada novo batuque seu. Sim, quinze. Outros quinze. Outros quinze e outros tantos. Tantos enquanto o Sol continuar a acalentar-nos; tantos enquanto o sorriso do luar nos abraçar na mais contínua das ternuras. Dois a quinze. Não quero melhor. Não o há. Até já, o tempo há-de voltar a recordar-nos neste espaço intemporal que vivemos. Quinze muitos. Quinze, pelo dois… Há pozinhos mágicos, feitos de pedaços de estrelas; a esses ninguém lhes desencripta o segredo… o segredo é esse: não desvendável, ainda que apreciado amiúde com vontade e fúria inabaláveis.

nude on a yellow sofa, 1926, henri matisse

She lives on love street
Lingers long on love street
She has a house and garden
I would like to see what happens
She has robes and she has monkeys
Lazy diamond studded flunkies
She has wisdom and knows what to do
She has me and she has you
She has wisdom and knows what to do
She has me and she has you
I see you live on love street
Theres this store where the creatures meet
I wonder what they do in there
Summer sunday and a year
I guess I like it fine, so far
She lives on love street
Lingers long on love street
She has a house and garden
I would like to see what happens
La, la, la, la, la, la, la, la, la, la, la, la, la, la


Love Street’, The Doors

sábado, 7 de abril de 2007

Sete vezes dois...

Parece que o modelo natural das coisas se altera. Temos de repensar a nossa ordem ecológica, mais quando os coelhos passam a pôr ovos. Agravando o facto, convenha-se, de coelhos da estirpe kappa andarem por alguns lados a largar ovos de estirpe gamma. Mas como nada disto poderá fazer sentido...

É como nas contas, quase nunca acerto - ou se acerto, acerto para o meu lado. Estará a natureza que nós conhecemos perversa? Não creio; e pelo menos nesta conta acertarei: sem dúvida que o resultado é catorze... catorze pequenos infinitos que glamorosamente brilham no tempo. O resto da conta não sei; parece ainda mais infinita, se é que é possível. Parecendo ou não parecendo, é o que quero. E ainda sei bem o que quero.

dog barking at the moon, joan miró


"Aconteceu...
e por me teres feito cego
recordo o sabor da tua pele
e o calor de uma tela
que pintámos sem pensar.
Ninguém perdeu,
e enquanto o ar foi cego
despidos de passados
talvez de lados errados
conseguiste-me encontrar.

Foi dança
foram corpos de aço
entre trastes de guitarras
que esqueceram amarras
e se amaram sem mostrar.
Foi fogo
que nos encontrou sozinhos
queimou a noite em volta
presos entre chama à solta
presos feitos para soltar...
"

'Fogo e Noite', Toranja


... porém prefiro Sol e Lua...

domingo, 1 de abril de 2007

Quando não é peta

Primeiro de Abril. Alguns, muitos, por tradição, são apegos à graçola, à mentira em tom de patranha que o costume cristalizou no correr dos tempos. Outros, talvez em menor número, vincam-se à verdade, afirmando-a como algo supremo – ‘boas razões’, diria quem conheço por leituras e por elas somente.

Sem a peta, coisa que ressoa com o título. Sem a peta, sim; e sim, porque sim: escuso-me a explicações por, contornos seus, tão escusadas serem. O primeiro de Abril de há alguns anos terá sido certamente um dia radioso, pleno daquele estado solarengo que tão poucas vezes surge a exibir-se: ainda que, sem paradoxo, não houvesse raiado um único raio de Sol; mas certamente que solarengo, de Sol firme e disposto por convicções que só a ele e a mais ninguém, ou quase, respeitam. O primeiro de Abril de há alguns anos foi certamente de Lua cheia, aberta numa áurea inexprimível pelos sentidos; assim se terá iniciado o dia, mesmo pouco antecedendo a que se improvisassem as suas duas primeiras badaladas: ainda que, sem paradoxo, não houvesse Lua visível ao olhar humano – mas havia-a assim e muito mais para a vida.

É raro, e algo desconcertante quem sabe, exaltar desta maneira um dia. Mas, sem paradoxo, porque não: porque não fazê-lo? Exaltar o que é sublime não é crime nem pecado – nem lei nem divindade por ordem alguma se aprouveriam em sancionar tal façanha; se me questionarem porquê, retorquirei breve porque sim… porque sim.
Se nada é perfeito, e menos ainda o mundo que todos nós vivenciamos quotidianamente, inquestionável é que este se torna melhor pela graça das graças que, escassas mas irreprimíveis, se gera; gera… gerando em parto consumado. E daí até que as estrelas, em pozinho cósmico, se decidam a enredar todo o tecido de uma história, de histórias de vida… bem, isso é segredo delas; e com elas permanecerá – sabendo que, apesar desse pudico segredo, também nós vamos sabendo… sabendo vivendo, acrescentaria eu.

Certo é, sabemo-lo, que a memória tende a ser curta. Porém, afirmando em locução de asserção inabalável, cá vou estando; cá vou estando nesta afirmação que diz em peremptória exclamação ‘não esqueci!’.

É a vida… Gosto dela. Sim, se um duque e uma oitava conseguem compor sublime sinfonia…



"In a garden in the house of love, sitting lonely on a plastic chair
The sun is cruel when he hides away, I need a sister - I'll just stay
A little girl, a little guy - in a little church or in a school
Little Jesus are you watching me, I'm so young - just eighteen
She, she, she, she Shine On
Shine On
Shine On
In a garden in a house of love, there's nothing real just a coat of arms
I'm not the pleasure that I used to be - so young - just eighteen
She, she, she, she Shine On
Shine On
Shine On
I don't know why I dream this way
The sky is purple and things are right every day
I don't know, it's just this world's so far away
But I won't fight, and I won't hate
Well not today
In a garden in the house of love
Sitting lonely on a plastic chair
The sun is cruel when he hides away
Shine On...
Shine On
Shine On
....and on...and on...
Shine
Shine On
Shine
Shine
Shine
"

'Shine On', Apoptygma Berzerk (or. House of Love)

sexta-feira, 16 de março de 2007

Certo é que...

... nem sempre a distância separa; por vezes limita-se a uma ausência cujo destino é curiosa e paradoxalmente a sua ausência: a ausência da ausência, se assim antes a desejarmos definir.

©

"O tempo não sabe nada, o tempo não tem razão
O tempo nunca existiu, o tempo é nossa invenção
Se abandonarmos as horas não nos sentimos sós
Meu amor, o tempo somos nós
"

'Eternamente Tu', Jorge Palma

quarta-feira, 7 de março de 2007

Ao décimo terceiro...

Muitos são os mitos pagãos e herdados de uma moral judaico-cristã que apontam a má-sorte como parelha deste número. Por outro lado, muitos são igualmente os mitos pagãos e religiosos que lhe atribuem boa-sorte. É um número de opostos, como poucos gera controvérsia e tanto parlatório opinativo. Há uns anos, poucos se importariam de ter o tal 13 ao totobola; mas muitos se importariam em ser o 13º membro de uma mesa.
Enfim, um número importante. Tão e não menos que os restantes. Portanto, cá fica relembrado que o 13 não é esquecido; e talvez seja mesmo isso o que importa...


"Bad luck wind been blowing at my back
I was born to bring trouble to wherever
I'm at Got the number thirteen tattooed on my neck
When the ink starts to itch, then the black will turn to red

I was born in the soul of misery
Never had me a name
They just gave me the number when I was young

Got a long line of heartache
I carry it well The list of lives
I've broken reach from here to hell
Back luck been blowing at my back
I pray you don't look at me, I pray I don't look back

(...)"

'Thirteen', Johnny Cash

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Esterótipos?!

Mais um dia. Prestes a terminar. Emoldurado numa quadrícula demasiado estanque. Não que passe despercebido. Há mais dias. Há tantos mais dias a prosseguir num quotidiano preenchido; a preencher. Aí vêm...



dance in the city, 1883, pierre-auguste renoir

"Para o homem a sua namorada é literalmente a mulher mais bonita do mundo, superior a qualquer outra beleza."

'Sexo e Amor', Francesco Alberoni

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Simplicidade: 01

Pára. Ignora a velocidade alucinante da vida; das vidas. Acorda por instante o ser adormecido. Vive uma eternidade num momento. Os sentidos, todos, desintegram-se numa explosão unificadora. Descansa, despertarás novamente para o quotidiano envolvente, para a plenitude da existência.
Um ano passa. Um ano se ganha.

©

"Over the sea and far away
She's waiting like an iceberg
Waiting to change
But she's cold inside
She wants to be like the water

All the muscles tighten in her face
Buries her soul in one embrace
They're one and the same
Just like water

Then the fire fades away
But most of everyday
Is full of tired excuses
But it's to hard to say
I wish it were simple
But we give up easily
You're close enough to see that
You're the other side of the world to me

On comes the panic light
Holding on with fingers and feelings alike
But the time has come
To move along

Then the fire fades away
But most of everyday
Is full of tired excuses
But it's to hard to say
I wish it were simple
But we give up easily
You're close enough to see that
You're the other side of the world

Can you help me?
Can you let me go?
And can you still love me
When you can't see me anymore?

The fire fades away
Most of everyday
Is full of tired excuses
But it's too hard to say
I wish it were simple
But we give up easily
You're close enough to see that
You're the other side of the world
The other side of the world
You're the other side of the world
To me
"

'Other Side of the World', KT Tunstall

quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Estádios...

A ausência é uma obscenidade. Há vezes em que ser-se obsceno é uma dádiva.


"As marcas do ausente no espaço recordam à pessoa presente que está sempre «com»."

François de Singly, 'Livres Juntos'

sábado, 13 de janeiro de 2007

Além Tejo I

E com uma infecção respiratória se compromete um radioso fim-de-semana alentejano. Fica para a próxima... próxima semana, espero.

"A dose deve ser tomada diariamente à mesma hora. Os comprimidos devem ser engolidos inteiros."

Folheto informativo, 'Klacid OD 500 mg'

domingo, 7 de janeiro de 2007

Tique décimo primeiro

Será que os segundos importam?
Os minutos correm; às horas não mais se atenta às parcas badaladas que as anunciam; os dias sobrepõem-se sem demora substituindo-se pela semana, semanas e, quando retomarmos à consciência, pelos meses.
A velocidade é alucinante, se estacarmos para admirar o envolvente. Se há uns segundos vivíamos a hora zero, reabrimos os olhos com onze meses de história. Poder-se-á falar de história? Ou esta não é mais do que um mecanismo iniciado – inventado? – bem antes dos nossos egos terem verificado a sua existência num pretenso porvir para sempre? A história continua, prossegue após se terem esgotado os nossos tempos naturais. É-nos exógena e intocável, pelo que, para precaver, devamos agarrarmo-nos aos exíguos momentos que dela podemos desfrutar numa tentativa de apropriação que os torne nossos.
Um ano, coisa redundante, conta doze meses. Estaca-se a fim de observar a velocidade das existências nestes mundos que construímos tanto quanto nos constroem: se onze meses foram então supra mencionados, então também o significado e o significante que outro ano se afirma prestes a iniciar. A velocidade é de facto alucinante; mas a memória não escorre para o vazio do esquecimento, antes encaixilha a velocidade sub-cruzeiro os momentos vividos na experiência passada, que augura futuro, do quotidiano que se realiza a cada novo instante.
Se a emoção não está desprendida da razão, então a razão cristaliza per si, no âmago do ser, as emoções que se viram descobertas, realizadas, incubadas num fenómeno de continuidade cúmplice.
Afinal, sempre posso terminar a escrita asseverando, convicção das convicções, que não esqueci.

oceanie: le ciel, 1946, henri matisse


"Sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu
tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar


Pensa em mim, protege o que eu te dou
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar

Fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei

Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve para longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só

Eu vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega quem não tem medo de naufragar
"

'Cada Lugar Teu', Mafalda Veiga

sábado, 6 de janeiro de 2007

Comunicante...

Quebrei o enguiço dos diálogos surdos. Agora não falo para as paredes.


A razão calculista terminaria numa administração das coisas, seca, sem piedade e sem alma, que não teria valores que formassem e sustivessem uma comunidade

Allan Bloom, ‘A Cultura Inculta

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Sim, claro que sim

- De certeza?...
- Dúvidas não relampejam sequer em instantes de um segundo.

"Who can say where the road goes,
Where the day flows, only time?
And who can say if your love grows,
As your hearth chose, only time?

Who can say why your heart sights,
As your live flies, only time?
And who can say why your heart
cries when your love lies, only time?

Who can say when the roads meet,
That love might be, in your heart?
and who can say when the day sleeps,
and the night keeps all your heart?
Night keeps all your heart...

Who can say if your love groves,
As your heart chose, only time?
And who can say where the road goes
Where the day flows, only time?

Who knows? Only time
Who knows? Only time
"



'Only Time', Enya