sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Encostos...

Hoje, daqui a mais uns instantes, Palma no CCB.
Silêncio, que se canta música.



"Antes de teres aberto o bar
antes de teres mirado o rio
eu era alguémás costas de outro alguém
trouxeste mais contradições
trouxeste mais opiniões
e agora sou mais outro zé ninguém

finalmente só
finalmente a sós

quando eu já estava a sossegar
quando eu já estava a adormecer
vi-te dançar e a minha paz morreu
odeio a luz do teu olhar
quando não brilha só pra mim
pensei que fosses um brinquedo meu

finalmente só
finalmente a sós
"

'Finalmente a Sós', Jorge Palma

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Dos Enamorados...

No diz que diz, diz-se por aí que hoje, dia comemorativo de São Valentim, é ou se celebra, a fim de ser mais correcto, o dia dos namorados... Consta que tal celebração, não devida ao acaso, se deve nada mais nada menos à união dos casais enamorados. Talvez...

Hoje encontra-se padronizado pelos standarts das sociedades consideradas de consumo. O amor ao dinheiro, pretendem, vem numa desavença demasiado plácida subverter a ordem valorativa. Destituindo o investimento, em forma de troca financeira, aquilo que ao 'espírito' seria de legítima propriedade. Não concordo, discordância que todavia só justificada assume um rol de verdade.

Não me demito do sentimento, sentimento que deveria redigir, evitando a angústia da ambiguidade, em letra maiúscula. Fazê-lo, demitir-me de tamanha grandeza, significaria demitir-me da própria vida. E da vida, creio, não é hora ainda de me demitir. Por conseguinte...

Por conseguinte exijo-me a reparar o dano. Mais não seja, tendo em mente aqueles que desta tarefa são merecedores. Muitos. Por conseguinte, o amor existe e deve, aquém obrigações, ser celebrado. Por conseguinte, o amor não pode jamais ser remetido em exclusivo para data única e instituída. Por conseguinte, a "obrigação" voluntária de celebrar o sentimento por excelência deve ser praticada no quotidiano dos dias vividos.

Portanto, porque amo. Arremato aqui com ponto final. Por quem não esqueci, não esqueço e não esquecerei.


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Olha que Dois!

Era uma vez – sempre gostei de estórias iniciadas com 'era uma vez' – um mais outro um. Na existência de um espaço de interrupção que os mantinha até então ainda apartados, evidenciavam a sua natureza isolada; à data o dois, pregados um mais um numa solidão dormente, não transpunha a miragem de um sonho que experienciasse comunhão, ora latente ora desperta, afinal desejada. Eram um mais um, um mais outro; coisa bem distinta de um com um, um com outro. Eram únicos, porém continuam tanto quanto continuarão a sê-lo. Únicos, contudo de maneira a que inevitavelmente sós. Não que fosse mau, todavia longe de ser bom... inacabados, talvez seja a expressão que melhor lhes assentasse; construções em demasia inacabadas...

Um dia quis o desígnio dos pozinhos mágicos das estrelas e demais fragmentos do cosmos que tal circunstância se revolucionasse. E alterou-se, numa transformação cumulativa. Um mais um constituíram-se no dois; um com outro, um com um. Assim, únicos sem que para tal isolados, moldaram as suas peças, esquematizaram uma vida conjunta onde dois seres individuais consubstanciam o sem paralelo da integridade. Seria pouco considerar tratar-se de relação simbiótica. Atravessavam-se, fundiam-se, conheceram-se dois como um integrado. Osmose, era o termo que me faltava nesta descrição de pureza e de partilha que comungada se alcança. Atingiram a imperfeição mais perfeita. Um e outro, juntos com; dois.

Crêem hoje, estória de fadas vista real, ser um um universal e já historicamente indivisível, irredutível às partes. É certo, o dois complementado neste um abrange o manancial das suas partículas individuais, das exclusividades características, dos traços particulares. Não obstante, sonham sonhos conjuntos, contam o futuro que ainda não chegou em linha escritas por duas mãos que sobrepostas se confundem numa e numa apenas. Dois num. Também o dois pode ser um, e assim ditam o passado e o presente que vão redigindo essas linhas do tempo por vir. São um com um, dois. São dois que existem num um. Trajectos como os contados fazem as estórias que os livros narram. Há estórias felizes. Escusa-se a pensar no fim. Apenas que há estórias felizes. Talvez, quem sabe, a sua herança venha a descrevê-las: pequenos menininhos e pequenas menininhas que a seu tempo irão igualmente buscar pela ternura do dois.

Enfim, hoje contam, um com um, dois.




Nalguns casos, duas pessoas comunicam a sua disponibilidade para a relação sem sequer um contacto físico, sem uma palavra, mas através de um conjunto de estímulos subliminais.

'Sexo e Amor', Francesco Alberoni