E quatro. Quarenta e quatro. Não, não me esqueci. Quarenta e quatro aninhos, como tu carinhosamente os denominas. E eu, de rosto encostado no teu ombro, fecho os olhos e sorrio placidamente.
Quarenta e quatro. São tempos que trazem de tudo, do mais extraordinário ao mais decepcionante dos acontecimentos de uma vida de todos os dias que partilhámos, partilhamos e, certamente, partilharemos. Claro que é muito mais fácil lidar com o extraordinário, que aqui ancoro numa acepção daquilo que comummente caracterizam como o acontecimento agradável, feliz, por vezes imaculado. Há também momentos de alguma neutralidade, e com isto não digo indiferença, com os quais é igualmente fácil de lidar. Depois, por fim, tudo aquilo que se deseja não vir a ter existência, mas a inevitabilidade da vida de todos os dias trá-lo consigo: obviamente, refiro-me à decepção, ao desagradável e ingrato, ao que é mau. A decepção, ao contrário dos demais, não é fácil, nada fácil e muitas vezes penoso de lidar com. Porque quanto maior é o sentimento de proximidade, mais duras se fazem sentir as faltas que cometemos, pois mais não seja é tudo menos isso que aguardamos do ente querido. Mas acontece, nessa inevitabilidade de ocorrências sequenciais e múltiplas da vida quotidiana. Todos nos podem decepcionar, contudo o ferro que verdadeiramente magoa é sempre aquele que, abrasivo, nos é apenso pelos que mais gostamos; para os outros podemos inclusivamente ser indiferentes, demonstrando-lhes que não importam tal como se poderiam querer insinuar. O ente querido importa. Pois que por isso a mais ténue das desilusões é dotada da capacidade de nos fazer sentir aferroados. Dói.
Creio que os entes queridos vivem no seu mundo e só depois no mundo de todos. E esquece-se, amiúde, que somos humanos. É difícil lembrarmo-nos de tal circunstância quando os entes queridos colocam o seu mundo numa esfera superior, numa esfera que, ainda que profana, se considera próxima do plano divino. Mas somos homens e mulheres. Todos nós. E erramos. E erramos outra vez. E outra. Então, a partir daí, remanescem tão somente duas lógicas, dois caminhos distinto, duas soluções, dois trajectos. Dependerão eles, sem dúvida, da força do elo que une os entes sobre os quais temos vindo a discursar. Se for frágil, então a ruptura surgirá num ponto ou momento mais ou menos adiante. Se for forte, então sofrerão, quiçá mesmo mais, mas terão coração suficiente para perdoar, para rectificar, para projectar reformas futuras que evitem o dilaceramento causado pela mágoa e angústia da desilusão.
Não sou fiel a predicados deterministas. Não há escolhas pré-estabelecidas. Há sim o livre arbítrio, a vontade de uns e outros. E essa vontade pode ser conduzida para que se navegue na mesma direcção ou, no extremo do seu oposto, que navegue para mares distintos. A primeira hipótese implica a decisão uníssona por parte das duas entidades, à segunda basta que um delas rompa com o estabelecido. É bem mais fácil navegar sozinho, porém muito menos gratificante já que o vazio se instala como companhia exclusa. Enquanto eu for eu e a demência não me transtornar ao ponto de me perder de mim, navegarei por opção e gosto o traçado mais difícil. Entenda-se: difícil. Porém, incomparavelmente superior em virtude, e porque não enormidade?, de um sentimento de realização que, justamente por ser o que é, se manifesta tanto no indivíduo como no colectivo que é o de duas vidas em engrenagem solidária. Parece difícil. Pode ser. Acredito que seja. Mas, tretas à parte, vale a pena. Só assim se vive; em solidão, está-se. A diferença é abissal. Muito mais que abissal.
Há quarenta e quatro aninhos escolhemos, e assim enveredámos, o nós. Conhecemos as experiências do extraordinário, do mais ou menos neutro, da decepção. Hoje estou radiante por isso. E radiante é dizer pouco, muito pouco. Nesta vida de nós entrelaçados fica a esperança de que a decepção surja rara. Nesta vida de nós entrelaçados fica a esperança de que o extraordinário brinde vitória. Nesta vida de nós entrelaçados fica a esperança que o mais ou menos neutro aconteça em serena felicidade. Há por aí uma estrelinha muito especial…
Quarenta e quatro. São tempos que trazem de tudo, do mais extraordinário ao mais decepcionante dos acontecimentos de uma vida de todos os dias que partilhámos, partilhamos e, certamente, partilharemos. Claro que é muito mais fácil lidar com o extraordinário, que aqui ancoro numa acepção daquilo que comummente caracterizam como o acontecimento agradável, feliz, por vezes imaculado. Há também momentos de alguma neutralidade, e com isto não digo indiferença, com os quais é igualmente fácil de lidar. Depois, por fim, tudo aquilo que se deseja não vir a ter existência, mas a inevitabilidade da vida de todos os dias trá-lo consigo: obviamente, refiro-me à decepção, ao desagradável e ingrato, ao que é mau. A decepção, ao contrário dos demais, não é fácil, nada fácil e muitas vezes penoso de lidar com. Porque quanto maior é o sentimento de proximidade, mais duras se fazem sentir as faltas que cometemos, pois mais não seja é tudo menos isso que aguardamos do ente querido. Mas acontece, nessa inevitabilidade de ocorrências sequenciais e múltiplas da vida quotidiana. Todos nos podem decepcionar, contudo o ferro que verdadeiramente magoa é sempre aquele que, abrasivo, nos é apenso pelos que mais gostamos; para os outros podemos inclusivamente ser indiferentes, demonstrando-lhes que não importam tal como se poderiam querer insinuar. O ente querido importa. Pois que por isso a mais ténue das desilusões é dotada da capacidade de nos fazer sentir aferroados. Dói.
Creio que os entes queridos vivem no seu mundo e só depois no mundo de todos. E esquece-se, amiúde, que somos humanos. É difícil lembrarmo-nos de tal circunstância quando os entes queridos colocam o seu mundo numa esfera superior, numa esfera que, ainda que profana, se considera próxima do plano divino. Mas somos homens e mulheres. Todos nós. E erramos. E erramos outra vez. E outra. Então, a partir daí, remanescem tão somente duas lógicas, dois caminhos distinto, duas soluções, dois trajectos. Dependerão eles, sem dúvida, da força do elo que une os entes sobre os quais temos vindo a discursar. Se for frágil, então a ruptura surgirá num ponto ou momento mais ou menos adiante. Se for forte, então sofrerão, quiçá mesmo mais, mas terão coração suficiente para perdoar, para rectificar, para projectar reformas futuras que evitem o dilaceramento causado pela mágoa e angústia da desilusão.
Não sou fiel a predicados deterministas. Não há escolhas pré-estabelecidas. Há sim o livre arbítrio, a vontade de uns e outros. E essa vontade pode ser conduzida para que se navegue na mesma direcção ou, no extremo do seu oposto, que navegue para mares distintos. A primeira hipótese implica a decisão uníssona por parte das duas entidades, à segunda basta que um delas rompa com o estabelecido. É bem mais fácil navegar sozinho, porém muito menos gratificante já que o vazio se instala como companhia exclusa. Enquanto eu for eu e a demência não me transtornar ao ponto de me perder de mim, navegarei por opção e gosto o traçado mais difícil. Entenda-se: difícil. Porém, incomparavelmente superior em virtude, e porque não enormidade?, de um sentimento de realização que, justamente por ser o que é, se manifesta tanto no indivíduo como no colectivo que é o de duas vidas em engrenagem solidária. Parece difícil. Pode ser. Acredito que seja. Mas, tretas à parte, vale a pena. Só assim se vive; em solidão, está-se. A diferença é abissal. Muito mais que abissal.
Há quarenta e quatro aninhos escolhemos, e assim enveredámos, o nós. Conhecemos as experiências do extraordinário, do mais ou menos neutro, da decepção. Hoje estou radiante por isso. E radiante é dizer pouco, muito pouco. Nesta vida de nós entrelaçados fica a esperança de que a decepção surja rara. Nesta vida de nós entrelaçados fica a esperança de que o extraordinário brinde vitória. Nesta vida de nós entrelaçados fica a esperança que o mais ou menos neutro aconteça em serena felicidade. Há por aí uma estrelinha muito especial…
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