terça-feira, 28 de agosto de 2007

Antinomias

- Lua cheia.
- Sim. Gozando do vazio de alguns.


moon light, 1895, edvard munch


"Talvez por não saber falar de cor, imaginei
Talvez por não saber o que será melhor, aproximei
Meu corpo é o teu corpo, o desejo entregue a nós...
Sei lá eu o que queres dizer...
Despedir-me de ti, «Adeus, um dia voltarei a ser feliz.»

Eu já não sei se sei o que é sentir
O teu amor não sei o que é sentir
Se por falar, falei
Pensei que se falasse
era fácil de entender...

Talvez por não saber falar de cor, imaginei
Triste é o virar de costas, o último adeus
Sabe Deus o que queres dizer...
Obrigado por saberes cuidar de mim, tratar de mim, olhar para mim...
Escutar quem sou...
E se ao menos tudo fosse igual a ti...

Eu já não sei se sei o que é sentir
O teu amor não sei o que é sentir
Se por falar, falei
Pensei que se falasse
Era fácil de entender...

Eu já não sei se sei o que é sentir
O teu amor não sei o que é sentir
Se por falar, falei
Pensei que se falasse
Era fácil de entender...

É o amor que chega ao fim
Um final assim,
assim é mais fácil de entender...

Eu já não sei se sei o que é sentir
O teu amor não sei o que é sentir
Se por falar, falei
Pensei que se falasse
Era fácil de entender...

Se por falar, falei
Pensei que se falasse era fácil de entender.
Eu já não sei se sei o que é sentir
O teu amor não sei o que é sentir....
Se por falar, falei

Pensei que se falasse era fácil de entender...
"

'Fácil de Entender', The Gift

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Desde já, até mais

Escurece. É a noite. Coisa normal. Escurece, todavia, em demasia. Os irrecordados medos de criança face à escuridão reemergem. Onde estás tu, dia? Quero-te, com a manhã que te anuncia mais forte até novo ocaso. Raspaste-te e cá sozinho me aguento. Não tenho medo, asseguro firme; firme na certeza de que minto, na necessidade de uma mentira protectora que nos impede do descambamento num real ainda mais irreal que a suposta realidade a que lhe atribuem nomes, convencionada e adjectivada quase hiperbolicamente por aqueles que mais temem do que uma criança prostrada ao escuro.
As saias das mães não mais são suficientes para nos amparar desses medos cáusticos impostos por esse negrume degredo da escuridão. Faltava só relampejar…
Assim, obriga-se à luz. Não natural. Essa, dos candeeiros que, tão pardacentamente vão alumiando esquinas e becos nas trémulas mentes, feitos brejeiros destemidos se sentem mais importantes que o sol. Loucura hiper-realista, talvez. Não quero dormir, entregar-me a esses trabalhos oníricos que a bel-prazer brincam com os meus neurónios, quero sim estar desperto para os acontecimentos: ainda os há, não desrespeitando as opiniões dos cépticos. Busco, portanto, pelo acontecimento. Pressinto que o haja para outrem, não o auguro para mim, impossibilitado por míngua de crença na razão e na sensibilidade mais directamente provinda dos sentidos. Quando a nova aurora? Tenho sono, faz-me falta repousar a ossada. Outro dia, talvez; mês, ano… Fervorosamente pouco esperançoso, sem querer entrar por caminhos de contradição. Não me interessa, a mim, o novo homem; sim, o novo dia – Haverá previsões?
Sem cabalas assume-se o que há para assumir, sem receios outros que não aqueles que a mente nos possa pregar. Em súmula: Estou mesmo a precisar de férias… ou estou mesmo a necessitar de corromper a mente com mais trabalho, uma parafernália dele.

l'eclair, 1868, victor hugo



"esta é sobre ti
tem amor e ódio
é para ires ouvindo nestas horas d'ócio
ínfima parte de um sonho perdido
libertei-o, ja o tinha esquecido
é um sinal...
espero o momento na sombra da rua

ouço uma voz que me lembra a tua
passei pelo risco de sofrer
por não ler os teus sinais
é um sinal... para recomeçar...

quero ver gente, quero ver a terra
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera

leva-me as areias quentes
que me instigam os sentimentos
que me deixam nua perante os elementos
ensina-me a escavar objectos sem estragar
para que sorrir seja sempre vulgar
dá-me de beber, finas gotas desse mel
para que o meu saber não esteja só no papel
incita-me a lembrar
o teu gosto pelo mar
para que um dia fique pronta a zarpar
esperar que amanhã tudo seja diferente...
e tu possas estar presente...

quero ver gente, quero ver a terra
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera

incita-me a atirar os dados sem soprar
quero-te dizer seja vulgar...
quero ver gente, quero ver a terra
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera

incita-me a atirar
para recomeçar...
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera"

'Esquecimento' Mesa

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Ver

Ainda pouco passa do meio-dia, já sei.

©

"Por outro lado, estabelecer com precisão o estado da questão que se estuda também é, geralmente, um procedimento central de investigação."

'Práticas e Métodos de Investigação em Ciências Sociais', Luc Albarello, Françoise Digneffe, Jean-Pierre Hiernaux (et al.)

Second Best...

E Pronto. Desde ontem que, nova aquisição, tenho novamente o que com esconder os olhos. Não será propriamente a mesma coisa, aliás, a distinção é bem evidente. Uma espécie de ruptura, um entrar noutra esfera deste nosso real vivivo. Porém, sempre servem, que outra coisa não se esperaria, para cobrir as janelas da alma das outras almas do mundo. Pronto, também podem e devem ser utilizados para protecção solar e de claridades mais intensas.




©


"There's something I can't see
Something living in the way you smile
Behind those eyes you lie
And theres nothing I can say
Cause I'm never gonna change your mind
Behind those eyes you hide"

'Behind Those Eyes', 3 Doors Down

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Ontem, um dia como (todos) os outros…

Escurece e adormeço. Deitado, estirado na cama. Exaustão provinda de cansaços vários. Não recordo sequer qualquer luz acesa, fosse do candeeiro do lado, assente em mesa de cabeceira, ou dos holofotes pregados no tecto, mirando três direcções mais ou menos distintas. Com a roupa que trazia vestida no corpo, despojo de um dia. Pancada forte. Um livro de metodologia e um caderno de notas repousam à direita, pela esquerda o portátil desligado mantendo um precário equilíbrio, posto ao alto, entre os rebordos da cama e os alicerces do chão de madeira. Não estou cá. Fugi. Algures nos meus sonhos vou correndo cenários, cenários já esvaídos da memória. Cenários urbanos, só podia. Quem te disse que era correcto teres-te definido como pária urbano? Efeito boomerang, arranjaste a bronca agora suporta-a; e sem queixumes, para quê, aliás?
Às duas, não precisamente às duas, mas por aí, o telefone toca. Acorda-me. Vejo o número. Ligo de volta. Já estou acordado? Uma voz mais humana do que a minha atende. As notícias não são boas, mas, credo, muito longe do catastrófico. Tenta-se ver a realidade tal qual ela é. É mau, mas resolve-se num instante, vais ver; já sabemos do que se trata, se não soubéssemos seria, talvez aí sim, mais alarmante. Nada catastrófico, já o escrevi, mas sempre desassossega. Olho o relógio. E outro. E mais outro ainda. Que horas seriam ao certo? Dou agora conta do livro e do caderno, do computador quase caído a um fio de se estatelar redondo no pavimento. Nem lhes toquei.
O sono foi-se, a cabeça matuta preocupações que em breve estarão sanadas, apenas a representação do pária urbano se mantém de pé firme. A opção é não voltar a dormir. Vai-se para o outro computador, no escritório. Irmão grande do primeiro, pelo menos di-lo-ia observando o absurdo na discrepância das dimensões, o espaço que ocupa mais do que a triplicar. Fazem quase o mesmo, mal se notam as diferenças e é quando se notam; todavia, que faces tão diferentes. O corpo queixa-se, dói a cabeça; não quer, todavia, descansar o que nela mora, cérebro electrizado pelos últimos estímulos que o açoitaram.
O mail é a primeira coisa que se vê, ou não vê que não há. Distribuem-se janelas com browsers de internet a mostrar páginas e mais páginas. Olho o blog e prometo-lhe pela enésima vez que um dia apago-te e pronto, ameaça sempre reiterada e nunca cumprida. A secretaria virtual da faculdade, raios partam que não há maneira de lançarem as notas que sobejam… já cansa e quero terminar o plano curricular, arrumá-lo de vez sem que lhe volte a pôr nem olho nem atenção alguma em cima. Outras tantas páginas, percorrem-se por elas olhares que o são em molde aleatório. A atenção prende-se e desprende-se, diversificada como também são os conteúdos e sentidos das páginas remanescentes. A internet é perfeita para um pária. Tudo é casa como tudo é estranho. Quero lá saber. Mas quero…
É vez de me virar para o i-tunes e pôr a playlist a correr. Músicas em tons desiguais e línguas múltiplas, também aqui, observo, ninguém se entende; esta casa também não é a casa delas, sendo; imitadoras; que coisa esta de, por seu turno, também quererem ser párias. Penso dizer-lhes que não vale a pena, contudo estou já demasiado acordado para dialogar com músicas. Não tenho sono, não tenho igualmente a certeza se estou de facto acordado; estarei tão somente a ser mimético, acordado por procuração? Seja como for, faço por arredar a ideia do pária. Afinal não se tratará de coisa excessiva, uma obsessão compulsiva auto-induzida, cujos contornos desagradáveis acabam obtendo algum gáudio por um processo de vitimação? Sei lá. Falta de sono. Cama vazia. Sítios errados. Repouso em míngua, inconsistente. Penso que a Lua existe. Mais cheia, certamente, para os lados do sul, bem mais a sul. Aí brilhará mais vistosa, tal como é. Mas também aqui existe, não menos vibrante, também aqui a sinto por perto. Menos prosaico, penso terminar o trabalho que resta entregar, em afinar o projecto de tese como me encomendaram. Com prudente sensatez e seriedade penso no trabalho e na altura de começar a obter ganhos, lucros, facturar… Esta noite foi quase igual, copycat.
Preciso de férias.

untitled, 1981, jean-michel basquiat



I'd only come here seeking peace.
I'd only come here seeking me.

In your dream you see me clear
I have no restraint, no fear
Powerless I watched from faces I'd assumed.
My purpose set. My will defined.
Caress the air.
Embrace the skies.
Escape the sorrow and restraint of mortal cities.

Give me time I will be clear.
Given time you'll understand
What possesses me to right what you have suffered.
I'm in this mood because of scorn.
I'm in a mood for total war.
To the darkened skies once more and ever onward.
There is no faith in which to hide.
Even truth is filled with lies.
Doubting angels fall to walk among the living.
I'm in this mood because of scorn.
I'm in a mood for total war.
To the darkened skies once more and ever onward.

(…)

I'd only come here seeking peace.
I'd only come here seeking me.


Darkangel’, VNV Nation (Das Ich mix)

terça-feira, 7 de agosto de 2007

1 e ½

Ponto de viragem, algures entre o um e o dois. Bem vistas as coisas, poder-se-á dizer que não é nenhum dos dois. E com razão. Um e meio é pertença do seu momento. Claro, consigo carrega a memória do que o antes trouxe. Claro também, ousa carregar o que ainda não faz parte das memórias guardadas mas que entrevê memórias construídas num tempo por chegar. Obstinadas, tanto se desejam. Porém, no presente, o vivido é o que se disse. E é este vivido que agora se exalta não deixando de exortar aquilo que foi como aquilo que será.

©



You write a little note that
You leave on the bed
And spend some time dissecting
Every word he said
And if he seemed a little strange
Well, baby - anyone can change
And you do
You do
You really do


You Do’, Aimee Mann

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Perdas Escuras – melancolia…

Há dois dias aconteceu um episódio que me deixou triste, bastante triste. Em simultâneo fica-se incrédulo, depois desesperançoso e, enfim, desiludidos connosco. Entre um passeio de uma casa até à faculdade, terminando nos jardins da Gulbenkian. E os meus óculos de sol, companheiros de mais de três anos, finaram-se por ali. Pode parecer imberbe esta atitude, mas nutria um carinho muito especial por aqueles óculos. Agora nunca mais os verei senão na memória física que os retratos deixam.
Estranho, o dia, esse, com o iniciar da noite correu bastante bem. Terminou melhor ainda.
Hoje, ainda não refeito dessa imberbe tristeza como a maioria considerará, despeço-me deles e aqui os coloco em imagem a toque de cerimónia fúnebre. O pior é que aqui os coloco com mágoa e desilusão que me pesam nos ombros e que aponto a outros.
Imberbe, este post. Diga quem o quiser. Pesaroso de fazer gemer, sinto eu. E a mágoa mais a desilusão com a perca e com algumas pessoas…



©

There’s a place where you are going
You ain’t never been before
There’s no one laughing at your back now
No one standing at your door
Is that what you thought love was for?

Baby I’m a lost
Baby I’m a lost
Baby I’m a lost cause
I’m tired of fighting
I’m tired of fighting
Fighting for a lost cause

Lost Cause’, Beck