quinta-feira, 27 de setembro de 2012
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
ausências evidentes, take III
Retomei, finalmente, o trabalho em pleno e a todo o vapor. Não posso asserir que tal seja suficiente, porém é o melhor que posso – pelo menos por agora, continuo a perceber que certas debilidades carecem ainda de tempo a fim de cicatrizarem convenientemente. O facto de cá não estares quando desperto já não é um exagero tão penoso e quase que incapacitante como há dias atrás. Não me habituo, contudo, à enormidade da cama que encaro como absolutamente desproporcional face às minhas necessidades do aqui e agora. Sei porém que se trata de facto transitório, que em breve voltará a cumprir os seus desígnios albergando duas e não somente uma pessoa.
Sentado à beira do colchão respiro algo ofegante, com uma mão na testa a evitar que a cabeça pendesse mais para baixo. Os pesadelos, os sonhos maus do inconsciente indisciplinado, assim te referes a eles, têm sido uma constante desde há meses – três contabilizo-os com certeza absoluta, desconfiando porém que o desfile vai bem mais longo. Não todos os dias, ou todas as noites. Indisciplinado o inconsciente, vejo-me compelido a corroborar as tuas palavras. Não seguem qualquer lógica que me veja habilitado a descortinar. Surgem aparentemente espontâneos ignorando por completo a dinâmica dos dias em que estás ou aqueles em que estás mas ausente. O que complexifica mais ainda a sua percepção, abortando qualquer capacidade explicativa por onde pudesse, pelo menos ir tentando, enveredar. Por mais que pense nisso não encontro sentido, escasseia qualquer tipo de tendência que permita inferir um qualquer padrão, perco-me em divagações e considerandos que só me enleiam mais profundo na sua teia tecida pelo incaracterístico do entrópico. Basta de pensar em pesadelos, remeta-se para segundo plano as aventuras de um inconsciente indisciplinado. O tempo não cessa de correr. São agora nove e doze da manhã, afirma o despertador pelos seus dígitos de cor verde. Perdi cerca de dez minutos numa tarefa estéril exceptuando unicamente o facto de agora sentir a respiração regularizada. Pelas dez quero estar a trabalhar, envolto em análise de dados estatísticos, diligência tão fácil quanto enfadonha; para além de que exige bastantes horas, de exercício a dar para o mecânico, e o tempo é-me cada vez mais escasso e precioso. Revolvo com o olhar o teu canto vazio na cama, tão sisudo quanto a tromba de um elefante. Agarro numa camisa, invariavelmente daquelas com botões no colarinho, retiro de uma gaveta uns boxers com bonecada imberbe face à idade que tenho, e arrasto umas calças de ganga surradas para a casa de banho. Dez horas. Porque raio não abrem mais cedo?
Olho o espelho que reflecte o rosto de um tipo com cara a acusar cansaço mesmo após seis horas de – merecido – repouso. Reflecte igualmente, para meu profundo desagrado, a queda de cabelo que se acentuou, com particular ênfase nos últimos seis meses. Os pêlos de uma barba mal semeada encobrem parte da pele da face, porquanto me recuso a cortá-la rasa até que um projecto, que não é um qualquer ou apenas mais um, esteja definitivamente concluído. Há quanto tempo não observo o meu rosto sem esta pelugem a deformar a imagem que retorna do espelho? Meses. Para cima de um ano, estou certo. É evidente, mantenho-a aparada, por regra, à medida que se costuma dizer de três dias e acertada já que abomino vê-la desalinhada, com pêlos desgrenhados que conspurcam a ideia de alguma simetria desejada. É nisso em que agora me concentro, com a gillette na mão. Contudo a tarefa não é fácil. Há dias em que me apetece mandar às urtigas a o repto em termos de aposta que concordei comigo próprio; mas não, hei-de ser eu o mais teimoso. A merda da lâmina, três para ser exacto, arrepela-me o pescoço mesmo junto à maçã de Adão. Não escorre sangue, ao menos não me cortei. Se empastasse certas zonas com a mousse de barbear, que aliás custa os olhos da cara mas outra não pode ser que a pele, coitadinha, põe-se desde logo a bradar queixumes que materializa em irritações alérgicas, seria provável que a lâmina deslizasse bem melhor. Porém, não pode ser. Perdia facilmente a noção de fronteira, o até onde pretendo desbastar. Um fio de vermelho. Porra, desta é que foi. Senti a lâmina a cortar por onde não devia. Passo água fria no pescoço se bem que o espelho informe que o meu esforço esteja a ser inútil. Papel higiénico. É prático e resulta prontamente. Se dizem que há coisas de mulher esta, a dos papelitos de papel higiénico colados nos pontos lacerados, é definitivamente coisa de homem; também merecemos, caramba. O branco assume rapidamente o tom avermelhado característico de sangue. Olho o espelho, outra vez. Recordo o meu pai das minhas memórias de infância: também ele espalhava destes papelinhos consoante os cortes que a então lâmina de platina lhe infligia no rosto. Reconheço na imagem reflectida alguns traços fisionómicos demasiado semelhantes, não fosse ele meu pai. Quantos anos teria ele nessa altura? Durante a infância não nos preocupamos com isso, acreditamos que nunca envelheceremos; acreditamos igualmente que aqueles que mais estimamos jamais hão-de partir, como se aos nossos olhos fossem eternos. Enquanto crescemos do que mais custa observar é a morte desse mito consubstanciada nos traços de desgaste próprios de idades mais avançadas que os progenitores, incapazes de os travar, desenvolvem paulatinamente ainda que de modo perene e cada vez mais vincado. Creio que grande parte dessa angústia advém do facto da percepção que a morte os envolve e que para ela irremediavelmente caminham, o que nos traz à consciência a ideia da nossa própria finitude, que também a nossa singularidade terminará inopinadamente num qualquer dia que, para mitigar a dor psicológica, projectamos sempre no futuro e preferencialmente num futuro remoto; todavia, lá está ela bem incrustada, a ideia de morte. Escapo a estas cogitações mórbidas porque agora és tu quem, de rompante, me invade a mente. Gozas comigo – devo dizer brincas, há que ser sério em escolher os termos acertados – cada vez que me olhas e eu a distribuir minúsculos bocados de papel aqui e ali onde o vermelho sangue escorre como água numa tímida nascente que brota da rocha fendida. Ficas pasmada, talvez até um pouco estarrecida, quando me observas nesta prática. Estacas de ombro encostado à ombreira da porta, tão imóvel que pareces continuação lógica da mesma. És capaz de ficar assim minutos em silêncio, sem pronunciar o menor ruído. E eu, pelo canto do olho, vejo-te encantado e todo o meu ser desaba nos oceanos de carinho e ternura que te tenho. Às tantas lá te decides que és um ser ciente, na tua unicidade, e aproximas-te com vagar do meu corpo, abraçando-o de trás para a frente, poisas o teu queixo no meu ombro, depositas um, dois ou três beijos suaves no meu pescoço e eu, em deleite e por ti arrebatado, fecho os olhos para melhor sentir o teu morno e delicado beijar, as mãos que se encaixam diante do meu tórax, puxando-me de encontro a ti, o peso que não pesa do teu queixo em mim apoiado, a respiração que consigo escutar, o cheiro que emanas e que conta ser amor; também eu te amo, muito, correspondo-te o melhor que sei e posso porque quero, porque o meu sentir me exorta a diligenciar-te palavras e gestos, mais gestos, próprios só a quem ama e ama de verdade. Contudo, hoje não te é possível rires-te de mim. Aliás, já faz muito. Demasiado. Estás tão perto e tão longe, sei que moras aqui e no entanto não sei onde te encontrar – por muito que te veja em todo o lado. Esboço um sorriso, que me é transmitido de imediato. Os olhos brilham, proclamam a alegria de viver que ingressa novamente na minha essência. Volto a banhar abundantemente o rosto com água fria. Já não há sangue. Estancou.
Um duche rápido, enxaguar de forma preste mas eficaz o corpo, secar o cabelo com o secador suficientemente distante para que o bafo ardente cuspido da sua boca chegue ao couro cabeludo o mais tépido possível, frio de preferência, desodorizante nas axilas que este calor não perdoa, vestir a roupa previamente deslocada para a casa de banho; camisa invariavelmente de fraldas para fora. Tudo isto realizado mecanicamente, embora contigo a monopolizar os pensamentos e devaneios que duraram neste entretanto. Sei que há dias fiquei de me atribuir resposta a uma interrogação levantada. Não qualquer uma. Daquelas interrogações existenciais e patetas que tantas vezes surgem do aparentemente nada. Patetas, sem dúvida. Mas nem por isso menos passíveis de respostas provisórias entre as quais residem aquelas que mais repudio e temo exactamente pela simples circunstância de poderem vir a encontrar algo – ou alguém – que as corrobore. Ainda não é para hoje, não. Fica para amanhã, sendo que amanhã pode ser um qualquer dia no futuro. Saio. Tranco a porta. Lembro-me, todavia, ter-me esquecido de chegar a escova aos dentes. Retorno a casa num frémito. Escovo o serrote com pouca água e um dentífrico de farmácia com supostas propriedades branqueadoras. Nunca lhe vi resultados, mas insisto no seu uso reiterado mais teimoso que uma parede de maciço cimento. Esguelho os olhos ao espelho, o suficiente para reparar que tenho comigo os óculos que corrigem a visão que à distância se turva, que na camisa pendem os de sol e que, finalmente, não há sinais de pasta no canto dos lábios. Incerto se me havia borrifado com perfume acudo a um frasco verde que inadvertidamente fora deixado numa posição vulnerável correndo sério risco de se estilhaçar de encontro aos azulejos, ou pedra ou seja o que for, que cobrem o patamar do chão. É o perfume que me acompanha há mais anos e que vai, sem desgaste alavancado pelo tempo, encabeçando os meus predilectos, nem sempre correspondido na mesma medida por companheiras de jornada – também tu, neste particular, não fazes excepção; não há mal nisso. Agarro a chave do carro, começo a ficar atrasado, o que não me fica bem visto face ao anterior considerando irónico e sarcástico, talvez até petulante, de quem asseverou mais do que questionou porque raio não abrem mais cedo. Regresso, por motivo desta interrogação, à impertinente incerteza do que estaria a ser cozinhado no Porto. Falta de confiança? Sem duvidar. Só que em mim, não nela. Aqui o demérito é meu, consagrado pela auto-estima deficitária que tão claramente me caracteriza. Mas alto, estou a ir longe demais e não pretendo enunciados sobre os quais mais tarde me seja difícil retractar. Há que ser pragmático, porém igualmente prudente. Não é este o timing para iniciar em deambulações hipotéticas. O foco está no trabalho. Sê exigente contigo e concentra-te no primordial, todo o demais é acessório mesmo que das tripas fizesses coração. O elevador tarda em chegar, teimoso como a tua ausência o é; pelo menos assim a sinto – e desespero na obsessão de te voltar a ter nos braços.
À chegada sou recebido com a simpatia do costume. O ponteiro já ultrapassou as dez horas. As pilhas de material aguardam por mim numa secretária própria para o efeito, colocadas pelas mãos diligentes e simpáticas daqueles que provisoriamente me acolhem. Abri o netbook e aprontei-me para imergir nas tarefas que estão à minha exclusa responsabilidade. Antes, porém, fitei o tecto da sala com a imagem em mente dos risíveis pedaços de papel higiénico colados ao rosto e do teu abraço de possessiva ternura. Recordo porque gosto tanto de ti, de forma imensurável e esmagadora – se bem que no melhor dos sentidos. Arreganhei o sorriso. Até já, miúda.
Sentado à beira do colchão respiro algo ofegante, com uma mão na testa a evitar que a cabeça pendesse mais para baixo. Os pesadelos, os sonhos maus do inconsciente indisciplinado, assim te referes a eles, têm sido uma constante desde há meses – três contabilizo-os com certeza absoluta, desconfiando porém que o desfile vai bem mais longo. Não todos os dias, ou todas as noites. Indisciplinado o inconsciente, vejo-me compelido a corroborar as tuas palavras. Não seguem qualquer lógica que me veja habilitado a descortinar. Surgem aparentemente espontâneos ignorando por completo a dinâmica dos dias em que estás ou aqueles em que estás mas ausente. O que complexifica mais ainda a sua percepção, abortando qualquer capacidade explicativa por onde pudesse, pelo menos ir tentando, enveredar. Por mais que pense nisso não encontro sentido, escasseia qualquer tipo de tendência que permita inferir um qualquer padrão, perco-me em divagações e considerandos que só me enleiam mais profundo na sua teia tecida pelo incaracterístico do entrópico. Basta de pensar em pesadelos, remeta-se para segundo plano as aventuras de um inconsciente indisciplinado. O tempo não cessa de correr. São agora nove e doze da manhã, afirma o despertador pelos seus dígitos de cor verde. Perdi cerca de dez minutos numa tarefa estéril exceptuando unicamente o facto de agora sentir a respiração regularizada. Pelas dez quero estar a trabalhar, envolto em análise de dados estatísticos, diligência tão fácil quanto enfadonha; para além de que exige bastantes horas, de exercício a dar para o mecânico, e o tempo é-me cada vez mais escasso e precioso. Revolvo com o olhar o teu canto vazio na cama, tão sisudo quanto a tromba de um elefante. Agarro numa camisa, invariavelmente daquelas com botões no colarinho, retiro de uma gaveta uns boxers com bonecada imberbe face à idade que tenho, e arrasto umas calças de ganga surradas para a casa de banho. Dez horas. Porque raio não abrem mais cedo?
Olho o espelho que reflecte o rosto de um tipo com cara a acusar cansaço mesmo após seis horas de – merecido – repouso. Reflecte igualmente, para meu profundo desagrado, a queda de cabelo que se acentuou, com particular ênfase nos últimos seis meses. Os pêlos de uma barba mal semeada encobrem parte da pele da face, porquanto me recuso a cortá-la rasa até que um projecto, que não é um qualquer ou apenas mais um, esteja definitivamente concluído. Há quanto tempo não observo o meu rosto sem esta pelugem a deformar a imagem que retorna do espelho? Meses. Para cima de um ano, estou certo. É evidente, mantenho-a aparada, por regra, à medida que se costuma dizer de três dias e acertada já que abomino vê-la desalinhada, com pêlos desgrenhados que conspurcam a ideia de alguma simetria desejada. É nisso em que agora me concentro, com a gillette na mão. Contudo a tarefa não é fácil. Há dias em que me apetece mandar às urtigas a o repto em termos de aposta que concordei comigo próprio; mas não, hei-de ser eu o mais teimoso. A merda da lâmina, três para ser exacto, arrepela-me o pescoço mesmo junto à maçã de Adão. Não escorre sangue, ao menos não me cortei. Se empastasse certas zonas com a mousse de barbear, que aliás custa os olhos da cara mas outra não pode ser que a pele, coitadinha, põe-se desde logo a bradar queixumes que materializa em irritações alérgicas, seria provável que a lâmina deslizasse bem melhor. Porém, não pode ser. Perdia facilmente a noção de fronteira, o até onde pretendo desbastar. Um fio de vermelho. Porra, desta é que foi. Senti a lâmina a cortar por onde não devia. Passo água fria no pescoço se bem que o espelho informe que o meu esforço esteja a ser inútil. Papel higiénico. É prático e resulta prontamente. Se dizem que há coisas de mulher esta, a dos papelitos de papel higiénico colados nos pontos lacerados, é definitivamente coisa de homem; também merecemos, caramba. O branco assume rapidamente o tom avermelhado característico de sangue. Olho o espelho, outra vez. Recordo o meu pai das minhas memórias de infância: também ele espalhava destes papelinhos consoante os cortes que a então lâmina de platina lhe infligia no rosto. Reconheço na imagem reflectida alguns traços fisionómicos demasiado semelhantes, não fosse ele meu pai. Quantos anos teria ele nessa altura? Durante a infância não nos preocupamos com isso, acreditamos que nunca envelheceremos; acreditamos igualmente que aqueles que mais estimamos jamais hão-de partir, como se aos nossos olhos fossem eternos. Enquanto crescemos do que mais custa observar é a morte desse mito consubstanciada nos traços de desgaste próprios de idades mais avançadas que os progenitores, incapazes de os travar, desenvolvem paulatinamente ainda que de modo perene e cada vez mais vincado. Creio que grande parte dessa angústia advém do facto da percepção que a morte os envolve e que para ela irremediavelmente caminham, o que nos traz à consciência a ideia da nossa própria finitude, que também a nossa singularidade terminará inopinadamente num qualquer dia que, para mitigar a dor psicológica, projectamos sempre no futuro e preferencialmente num futuro remoto; todavia, lá está ela bem incrustada, a ideia de morte. Escapo a estas cogitações mórbidas porque agora és tu quem, de rompante, me invade a mente. Gozas comigo – devo dizer brincas, há que ser sério em escolher os termos acertados – cada vez que me olhas e eu a distribuir minúsculos bocados de papel aqui e ali onde o vermelho sangue escorre como água numa tímida nascente que brota da rocha fendida. Ficas pasmada, talvez até um pouco estarrecida, quando me observas nesta prática. Estacas de ombro encostado à ombreira da porta, tão imóvel que pareces continuação lógica da mesma. És capaz de ficar assim minutos em silêncio, sem pronunciar o menor ruído. E eu, pelo canto do olho, vejo-te encantado e todo o meu ser desaba nos oceanos de carinho e ternura que te tenho. Às tantas lá te decides que és um ser ciente, na tua unicidade, e aproximas-te com vagar do meu corpo, abraçando-o de trás para a frente, poisas o teu queixo no meu ombro, depositas um, dois ou três beijos suaves no meu pescoço e eu, em deleite e por ti arrebatado, fecho os olhos para melhor sentir o teu morno e delicado beijar, as mãos que se encaixam diante do meu tórax, puxando-me de encontro a ti, o peso que não pesa do teu queixo em mim apoiado, a respiração que consigo escutar, o cheiro que emanas e que conta ser amor; também eu te amo, muito, correspondo-te o melhor que sei e posso porque quero, porque o meu sentir me exorta a diligenciar-te palavras e gestos, mais gestos, próprios só a quem ama e ama de verdade. Contudo, hoje não te é possível rires-te de mim. Aliás, já faz muito. Demasiado. Estás tão perto e tão longe, sei que moras aqui e no entanto não sei onde te encontrar – por muito que te veja em todo o lado. Esboço um sorriso, que me é transmitido de imediato. Os olhos brilham, proclamam a alegria de viver que ingressa novamente na minha essência. Volto a banhar abundantemente o rosto com água fria. Já não há sangue. Estancou.
Um duche rápido, enxaguar de forma preste mas eficaz o corpo, secar o cabelo com o secador suficientemente distante para que o bafo ardente cuspido da sua boca chegue ao couro cabeludo o mais tépido possível, frio de preferência, desodorizante nas axilas que este calor não perdoa, vestir a roupa previamente deslocada para a casa de banho; camisa invariavelmente de fraldas para fora. Tudo isto realizado mecanicamente, embora contigo a monopolizar os pensamentos e devaneios que duraram neste entretanto. Sei que há dias fiquei de me atribuir resposta a uma interrogação levantada. Não qualquer uma. Daquelas interrogações existenciais e patetas que tantas vezes surgem do aparentemente nada. Patetas, sem dúvida. Mas nem por isso menos passíveis de respostas provisórias entre as quais residem aquelas que mais repudio e temo exactamente pela simples circunstância de poderem vir a encontrar algo – ou alguém – que as corrobore. Ainda não é para hoje, não. Fica para amanhã, sendo que amanhã pode ser um qualquer dia no futuro. Saio. Tranco a porta. Lembro-me, todavia, ter-me esquecido de chegar a escova aos dentes. Retorno a casa num frémito. Escovo o serrote com pouca água e um dentífrico de farmácia com supostas propriedades branqueadoras. Nunca lhe vi resultados, mas insisto no seu uso reiterado mais teimoso que uma parede de maciço cimento. Esguelho os olhos ao espelho, o suficiente para reparar que tenho comigo os óculos que corrigem a visão que à distância se turva, que na camisa pendem os de sol e que, finalmente, não há sinais de pasta no canto dos lábios. Incerto se me havia borrifado com perfume acudo a um frasco verde que inadvertidamente fora deixado numa posição vulnerável correndo sério risco de se estilhaçar de encontro aos azulejos, ou pedra ou seja o que for, que cobrem o patamar do chão. É o perfume que me acompanha há mais anos e que vai, sem desgaste alavancado pelo tempo, encabeçando os meus predilectos, nem sempre correspondido na mesma medida por companheiras de jornada – também tu, neste particular, não fazes excepção; não há mal nisso. Agarro a chave do carro, começo a ficar atrasado, o que não me fica bem visto face ao anterior considerando irónico e sarcástico, talvez até petulante, de quem asseverou mais do que questionou porque raio não abrem mais cedo. Regresso, por motivo desta interrogação, à impertinente incerteza do que estaria a ser cozinhado no Porto. Falta de confiança? Sem duvidar. Só que em mim, não nela. Aqui o demérito é meu, consagrado pela auto-estima deficitária que tão claramente me caracteriza. Mas alto, estou a ir longe demais e não pretendo enunciados sobre os quais mais tarde me seja difícil retractar. Há que ser pragmático, porém igualmente prudente. Não é este o timing para iniciar em deambulações hipotéticas. O foco está no trabalho. Sê exigente contigo e concentra-te no primordial, todo o demais é acessório mesmo que das tripas fizesses coração. O elevador tarda em chegar, teimoso como a tua ausência o é; pelo menos assim a sinto – e desespero na obsessão de te voltar a ter nos braços.
À chegada sou recebido com a simpatia do costume. O ponteiro já ultrapassou as dez horas. As pilhas de material aguardam por mim numa secretária própria para o efeito, colocadas pelas mãos diligentes e simpáticas daqueles que provisoriamente me acolhem. Abri o netbook e aprontei-me para imergir nas tarefas que estão à minha exclusa responsabilidade. Antes, porém, fitei o tecto da sala com a imagem em mente dos risíveis pedaços de papel higiénico colados ao rosto e do teu abraço de possessiva ternura. Recordo porque gosto tanto de ti, de forma imensurável e esmagadora – se bem que no melhor dos sentidos. Arreganhei o sorriso. Até já, miúda.
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
ausências evidentes, take II
Puxei do telefone apenas com a finalidade de confirmar a hora certa. Amanhecera há bastante e eu havia dado conta disso. Seis e meia da matina e nem um minuto dormido. Nada disto me surpreenderia se remontasse aos meus quotidianos de há dois pares de meses, mais ou menos isso. Todavia, desde que vivemos no nosso regime de comunhão que decidi, com um hábil sucesso cuja explicação me ultrapassa, encurtar drasticamente no meu tardio horário de recolha ao leito. Não sempre, conheces bem as excepções que sucedem com particular ênfase nos momentos em que permito que o trabalho se acumule até que pilhas de livros e de outros documentos se edifiquem desde o chão até ao quase contacto com o tecto ou naqueles em que os timings apertam até ao seu praticamente impossível cumprimento. Curiosamente, e simpático da tua parte, deixaste cedo de barafustar comigo e com a entropia que aqui e ali vou acometendo no espaço quarto a que preferimos chamar nosso escritório. Compreendeste-me e soubeste quase de imediato que essa era uma constante da minha essência, o meu modus operandi por assim dizer, e sem julgamentos de monta aceitaste-me como sou no amplexo delico-doce do nosso relacionamento. Percebeste o quanto isso era importante para mim e que no entremeio do caos que levantava à minha volta me entendia como se estivesse a viver imerso no meu habitat natural; provavelmente até será verdade... Não é propriamente a tua maneira de trabalhar contudo, de alguma forma, aceitaste por analogia e sem hesitações de maior que tal como tu tens o teu método é perfeitamente lógico que eu tenha o meu, por, passando a redundância, mais ilógico que te apareça à compreensão preconcebida; dou-te enorme valor por essa tua capacidade, sei que não é fácil interagir com alguém assim, quanto mais conviver, e já passei, inclusivamente, por algumas experiências bastante amargas cujos desfechos me vou abster de elucidar e de comentar. Mais ainda, captaste com uma impressionante lucidez que careço de momentos exclusivamente dedicados a mim, na mais egoísta das acepções. Pese embora esta contra-regra, a prática comummente estabelecida, mais por acordo tácito do que pela força de forçadas negociações, dita que nos deitemos apenas com intervalos breves entre ambos ou que o façamos em primorosa sincronia. Existem ainda outras excepções, pois. Todavia, essas não dependem por inteiro da nossa vontade e estão inapelavelmente associadas à nossa prática profissional. Falo, claro está, das ausências a que somos obrigados e que se consubstanciam em deslocações a outros pontos do país ou aquelas além-fronteira – onde nem sempre, ou quase nunca seja mais bem dito, nos podemos fazer acompanhar um ao outro; as justificações para essas viagens a sós são imensas e vou escusar-me a enredar nelas. Porém insisto: quando as luzes, seja a dos candeeiros de cabeceira ou da televisão do quarto, se apagam até ao outro dia é fácil um saber onde o outro se encontra, bastando escutar aquela respiração que não a nossa, o cheiro que é o do outro ou um estender num movimento os membros que chocarão amigavelmente de encontro ao corpo do ente querido; acrescentaria, no meu caso, ao desmesurado ronco de ressono de que te queixas com cara de má traída pela séria postura brincalhona com que as tuas formas ficam, à guisa da ternura que me tens, esculpida. Seis e trinta. Era um desses momentos de ausência.
Ergui-me sem sobressalto mas definitivamente decidido. Após ter poisado com cuidado o telemóvel, smart phone como se lhes dirigem alguns, levei paulatinamente ambas as mãos ao rosto cobrindo-o, ou essa foi a sensação que se me instalou, por completo. Talvez estivesse a habituar os olhos à parca luminosidade que penetrava no nosso quarto, o mais íntimo dos nossos espaços – ou talvez não, sei lá, foi o que me ocorreu pensar na altura. Despi a t-shirt de dormir, digo que as tenho de ir à rua e as para dormir, num gesto de rompante e meio inconsciente e experimentei algum alívio face ao desconfortável calor que sentia. Esfreguei os olhos, apesar de nada ter dormido suponho que estivessem algo remelosos, e compus os boxers enquanto caminhava meio zonzo em direcção ao escritório. Fechei com cuidado as portas, a do quarto de sono e de sonhos e a do escritório onde tive de me desviar da tralha costumeira para assomar à janela e ao malfadado maço de tabaco, já que os vizinhos são gente boa que merece a minha consideração e, para mais, respeito as poucas horas de sono que agora lhes são permitidas pois que recentemente acrescentaram um pequeno e exigente membro à família; felizmente as paredes, ou o que for para além destas, são de boa qualidade e raras foram as vezes em que realmente escutei o choro que tanto apela ao consolo próprio de uma criança que conta somente com algumas semanas de existência: bem-vindo ao mundo, puto.
Inclinado no parapeito a tentar acender um cigarro e com as capacidades mentais ainda excessivamente dormentes procurei com os olhos a Lua. Acendi o cigarro. À Lua confesso não a ter visto, teria já dado a volta ao horizonte. O Sol, esse, brilhava plácido e tímido. Também ele, como eu, deveria ter sono, pensei num devaneio pueril mas que de certa forma me acalentou o espírito. Sorri com a trivialidade do meu pensamento e quase me engasguei com a porcaria do fumo do cigarro que ia queimando, entre dedos, na minha mão esquerda. Estarias tu na terra dos sonhos? Com certeza que sim. És muito menos propensa a este tipo de deambulações nocturnas, madrugadoras seria mais exacto, do que eu. Sempre com os quilómetros que nos separavam em mente fiz por imaginar-te na tua cama do Porto, sossegada, serena, premissa irrevogável quando dormes. Voltei a sorrir, desta feita devido à tamanha estupidez do sentido que permitira ao meu pensamento; ou, admito, que a ele se tenha imposto por consequência das minhas imensuráveis inseguranças e da precária auto-estima que me caracteriza. Dormirias tu sozinha, sempre, tal como eu, quando os deveres nos infligem a obrigação destas cisões para mim invariavelmente indesejadas? Expeli a última baforada de fumo sugada do cigarro que deixei cair no cinzeiro de vidro com um risco de água antes de me entregar ao exame da bacorada pensada. Vivemos em tempos incertos e de risco. A literatura da especialidade é prenhe em considerações sobre este fenómeno; estes fenómenos. Estamos bem cientes e mais do que avisados para a realidade das vidas que cada vez mais se vivem com urgência, no imediato, espúrias face às gerações antecedentes, pressionadas por processos de individualização encarrilados pela sociedade do consumo e do prazer inadiáveis que repudia o esforço e até mesmo, amiúde, o mérito. É esta a profecia para as nossas gerações e creio que engolimos o engodo sem um único apelo nem à consciência nem à razão. Somos portanto os portadores do pecado que aceitámos como fardo sem contabilizar prejuízos mas tão somente a realização instantânea. Pareceu-nos o oásis no deserto, mas escusámo-nos a ponderar como atravessá-lo por completo desprovidos da bagagem adequada – com a crença inabalável de que outros oásis surgirão pelo percurso sempre que entendermos, simplesmente pelo facto de nos é devido, como que por um qualquer direito divino agora reificado. Perco-me a divagar e sou omisso na resposta que (não) me quero dar. O dia já é praticamente adulto. O cigarro na mão esquerda, coisa de hábito, é já o terceiro praticamente consecutivo. Expiro, de novo, profundamente. Porém, agora resultado do peso sentido na alma. É impossível evitarmo-nos, é impossível desviarmo-nos das nossas congeminações e das nossas respostas provisórias. Se não padecermos de doença mental incapacitante que nos aliene e esquarteje a personalidade, é impossível fugirmos de nós próprios, a tentativa de escape é inglória e vã tarefa. Decidi aceitar os meus próprios juízos. É evidente que seria… a minha questão abarcava várias respostas, todas elas plausíveis, tanto as prazenteiras como as aterrorizadoras.
Removi com a maior das calmas os headphones. Nem sei se o i-pod ficou a tocar para as paredes, não me recordo de ter interrompido a sua mecânica pré-determinada. Tanto faz. Não tinha mais por onde contornar a dúvida suscitada. Limitei-me a desembaraçar-me da música que trauteava nos meus ouvidos por um único motivo: queria ouvir o mundo; ou pelo menos um mundo mais abrangente, aquele que agora me rodeava e do qual me podia acercar, com maior ou menor gradação, com a participação integral e sobreposta dos meus sentidos. Sentia-me, nesta medida, mais próximo da realidade, seja lá o que signifique o conceito de real – de garantido tenho apenas o facto de que este é entendido de forma mais ou menos subjectiva por cada um de nós, deformado pelas nossas lentes de visão que destacam percepções distorcidas pelo nosso esquema mental; todavia é o mais próximo que temos da representação comum dos acontecimentos encadeados e sempre em catadupa que formam o agregado das consciências e das práticas humanas. Via-me assim mais humano, mais vulnerável, todavia na melhor das condições para tentar perceber, mais do que aventar resposta, o que havia questionado. A angústia é matéria integrante da condição humana, conhecemos-lhe o sabor desde a mais tenra idade, eventualmente ainda antes de termos consciência de nós próprios, dos princípios constituintes que enformarão e atribuirão sentido à nossa identidade pessoal. Outro cigarro começou a queimar por imposição de uma chama alimentada a butano que encostara a uma das suas duas extremidades. Os meus pulmões contestavam pelos maus-tratos infligidos, facto que decidi por ignorar já que a minha mente se queria a trabalhar exclusivamente nos porquês de um porquê que suscitara e que, no preciso momento, experienciava como o mais demolidor dos mecanismos de aniquilação destrutiva.
Ia apalpando, em modos de um procedimento fugaz e prenhe de opressora incerteza, terreno do que não estava certo de querer percorrer mas do qual estava certo não poder evitar. A adrenalina pingava num compasso mais apertado enquanto o músculo cardíaco bombeava a seiva vital a um ritmo condizente com um estado de taquicardia. Contava cada sístole, cada diástole, num ritmo de quem está atrasado para o seu próprio funeral quando todos os outros, os vivos, já jazem a carpir a partida sem regresso negociável, na garganta como se o próprio órgão cardíaco exigisse por sair através da cavidade bocal. As mãos respondiam ao estímulo psicossomático movendo-se livres da minha vontade num treme-treme de varas verdes assoladas pelo sopro de tempestade tropical. Com dificuldade lá consegui limpar com o braço direito o suor que escorria afoito de uma testa gelada. Era premente recuperar o controlo absoluto do meu corpo, porém para isso era inevitável conseguir acalmar-me. Para iludir o sistema nervoso ao rubro e em alerta vermelho considerei racionalizar aquela resposta promovida pela ansiedade que sitiara a minha existência; quebrar o círculo vicioso da sensação de pânico teria de ser obrigatoriamente o primeiro dos passos a executar sendo que não podia falhar, em circunstância alguma, o que condenaria ao fracasso todo o processo subsequente, na sua realização. Se bem que não sou técnico de saúde, particularmente de saúde mental, e nem aspiro em sê-lo, domino medianamente algumas estratégias úteis para prosseguir com razoável êxito a empreitada de iludir o cérebro do seu sentimento de impotência e de falência face à circunstância que o intimidara por demais. O amor que sinto por ti vergou-me até ao limite mais baixo da minha existência. Contudo, foi igualmente o sentimento de charneira para dominar e retomar na íntegra a lucidez que como areia se esvazia das mãos que a torneiam e cingem: a minha identidade estava agora a salvo – alguma vez estivera efectivamente em causa? – e eu voltava a reinar sobranceiro sobre o meu castelo. Blindagem erguida, é hora de mergulhar na dúvida e aplicar-lhe os critérios da crítica racional sem olvidar que as emoções sobrevivem por razão que lhes é inerentemente própria. O ritmo cardíaco desbragado havia-se moderado, se bem que pulsasse ainda forte nas têmporas, e a saliva regressava à boca árida.
Era natural que… bom, não seria bem natural o termo que buscava, que visava empregar. Tinha acabado de me recompor pelo que a obviedade da minha fragilidade de resposta não espantasse. Era plausível, sim, plausível soa bem melhor e é um conceito mais moldável ao exercício racional, que o pesadelo imaginado se concretizasse. Afinal que sou eu mais que os outros? Sorri, sabendo muitíssimo bem a resposta. Finalmente um sorriso conseguira efectivar-se, torneando toda a amálgama entrópica por que passara nos imediatos minutos que o antecederam. Reganhara a totalidade da minha singular individualidade.
Volte face momentâneo, decidi-me por um armistício. Tanto comigo como… basicamente comigo, não interessa estar agora a complicar. Persuadido de que devia umas horas ao sono retornei àquela cama desproporcional, gigantesca quando para meu uso individual. Barrei o melhor que pude a luz do sol: estores cerrados, cortinas corridas uma de encontro à outra. Sabia que a minha decisão implicava em não comparecer ao trabalho naquela manhã. Todavia, em nada me sentia incomodado, o meu trabalho depende mais do objectivo a cumprir do que dos meios que unidos concorrem para concretizar o tal objectivo; afinal, os meios são mais flexíveis, facilmente manipuláveis por quem já não é um mero aprendiz na arte. A componente laboral não perturbava a minha consciência, sabendo o que acabei de explanar, pelo que acudi ao chamamento do físico quebrado. Voltei a deitar-me só com o lençol, e parcialmente, a cobrir-me. Os olhos exaustos acolheram de bom grado a escuridão encontrada assim que deixei cair as pálpebras. Retirei da tomada o maior número de neurónios que pude, mais tarde iria carecer do exercício de cada um deles, sem direito a exclusões mesmo que justificadas. O assunto não está encerrado, longe disso, só agora fendi terreno a trejeito para os primeiros trajectos face a uma questão que me coloca em combate comigo próprio; para mais tarde que agora não. Lá chegarei, devidamente equipado e pronto, com baioneta erguida e estojo de primeiros-socorros a pender do cinto; porém, põe-te prestes: a circunstância não tardará esfaimada por sangue – o teu.
Porquê a minha teimosa persistência em escrever quando me sei bem aquém do meu melhor? Que justificação para este fenómeno? Resposta inicial e provisória, não consigo deixar de escrever, como se fosse uma espécie de comportamento compulsivo. Todavia, poderia fazê-lo num registo mais privado, sem me expor, sem nos expor, num espaço de fácil acesso embora o saiba visitado com uma frequência cuja expressão é praticamente abaixo do nada significativa. Também sei, continuo convicto disso com um nível de certeza confortavelmente elevado, que desconheces por completo o endereço deste blogue; desconheces-lhe, inclusivamente, a existência. Em todo o caso exponho-me, por mais mínima que seja essa exposição. Pior, exponho-me ciente que ainda estou excessivamente debilitado pelo ‘cansaço cerebral’ que me acometeu há mais de um mês e do qual não recuperei ainda em pleno, falta ainda bastante e muito ‘exercício neuronal’. Não importa. Talvez seja apelativa, e até confortável, uma resposta nestes termos: pouco importa o estado em que nos encontramos, o que realmente importa é o esforço que envidamos para darmos o nosso melhor – independentemente das circunstâncias de um momento preciso. Só assim crescemos como pessoas, só assim cumprimos as parcelas do todo que é o nosso projecto de vida, estejamos a ultrapassar o mais intransponível dos obstáculos ou estejamos no topo da montanha a observar e a apreciar os ganhos que cremos fruto do nosso mérito. Afinal miúda, talvez um dia te venha a falar deste blogue, a apresentar-to. Só por ora, fico por aqui.
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
espiral
Percorro a casa a fazer mil coisas sem nada realmente fazer. Não, não sei o que faço. Nem o que digo. O que penso. Estou só certo do que procuro e não encontro porque não está. Perdido. Não é a primeira vez. É normal. Já passa. Encontra-me.
"i've been under the gun
i've lost and i've won"
'under the gun', sisters of mercy
sábado, 1 de setembro de 2012
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