neurose (fóbica)
segunda-feira, 23 de agosto de 2021
Intrincado
segunda-feira, 10 de maio de 2021
Abril, 74
Tomai a liberdade como um acto de coragem a manter todos os dias. Estai atentos a vós próprios, pois que essa liberdade foi-nos oferecida sem que porém tal exclua que a nutramos no sentido de impossibilitar que um dia, para espanto de cada um individual, que esta nos venha a ser sonegada. Em Portugal “Abril” é um dos signos da liberdade. Cuide-se da responsabilidade de cada em vivê-la; a liberdade, aliás, é complexa: muitos, inclusive, já abdicaram da mesma sem consciência e dificilmente a verão, para si, restaurada. Viver em liberdade é viver em compromisso para connosco; atentai para que esta nunca vos seja sonegada, reitero, o que exige de nós todos uma postura activa no quotidiano.
Feliz dia da liberdade para todos os “eus”, que somos cada um de nós, que reunidos em acção colectiva constituímos este maravilhoso Portugal que nos calhou como lar, inclusive no espírito da diáspora.
domingo, 9 de maio de 2021
do óbvio esquecido II
"Estava destinado a assim ser, deixemos que o seja". Talvez. É experimentar aplicar o "eu inteligente" na sentença e é provável que alguns fatalismos deixem de ter mesmo de o ser. Pode, claro, suceder que o eu inteligente entre em acção por nossa livre escolha e que o resultado para uma aparente predestinação resulte ao invés por várias vontades confluirem para esse desenrolar. Somos livres de ser, pensar, agir; sempre fomos. Acredite-se e aceite-se que o que parece encoberto como predefinição nada mais é que nas nossas acções escolhamos agir em conformidade ao "desejo" do nosso eu verdadeiro e inteligente e não a expectativas socialmente construídas que não poucas vezes concorrem para que escolhamos afastarmo-nos de nós. Contem, portando, em encontrar ampla e proficuamente essa sensação entre "destino" e auto-cumprimento quando decidir-se utilizar o eu inteligente, já que tão somente se trata de um espelhar daquilo que buscamos de facto e onde nos reconhecemos como seres integrais embora singulares, causando por esse dito um recorrente efeito de déjà-vu.
sábado, 8 de maio de 2021
do óbvio esquecido I
quinta-feira, 6 de maio de 2021
PmA Parte II
A altura de despertar chegou. A de reclamar o que é meu e significativa parcela de quem sou. Por demasiado tempo, frutos de cabalas mentais, permiti ser desmembrado de um importante componente digital; não o único nem o último jamais - porém, importa.
Cansado das redes sociais e de todos os doutores de sofá que de tudo sabem tudo, embarco novamente na aventura deste blog na expectativa de continuar a manter um desarrumado espaço desarrumado.
Sou licenciado, sou mestre e sou doutor. Desengane-se, todavia, quem julgar vir aqui encontrar um ser ciente e arrogante que, óbvio, de tudo tudo sabe. Na realidade o percurso é precisamente o oposto: assertividade sempre que necessária, humildade e uma grande vontade de continuar a aprender; mais, os posts que colocarei evitarão temas fracturantes pelo já explanado - não que deles fuja, sim porque desejo evitar a média douta sabedoria popular que a tudo, pretende-o, responde. Por aqui já vejo o verbo alheio a acusar a primeira nota da minha (possível) arrogância. Ora, nada mais incorrecto, repudio a "ciência de sofá" dx, amiúde, chicx espertx, abraçando sem hesitação nem com acto de glorificação a minha ignorância remetente à esmagadora maioria do real que me é dado aos sentidos e do qual percepciono tão-somente parcas partículas.
Redigirei sobre o que me aprouver, como ficou entendido, sem busca de likes, loves ou outros dúbios critérios de aferição sobre a qualidade do material redigido; na verdade, desprovido dessa classe ou espécie de júri, só me sinto ainda mais livre e com mais acentuada vontade de redigir.
As minhas redacções serão o que forem, mas serão e sê-lo-ão longe do crivo do julgamento. Por ser um espaço, um blog em 2021, que não atrai multidões escreverei, a maior parte das vezes, muito metaforicamente sobre a minha vida pessoal; também da profissional; no entanto, por ora, o que mais me atrairá será a escrita de ficção (com um pitada de realidade para que possa, espero, acrescentar-lhe sabor e valor). Senti novamente a necessidade de me apresentar, pois são já bastantes os anos entre a presente e a pretérita publicação.
Como se costuma dizer, venha quem vier por bem (errava igualmente qualquer um que, mediante pré-noção, houvesse ficado convencido que não iria recorrer ao popular e à sabedoria popular, já que muito boa gente contribuiu para que estes portassem, igualmente, o seu valor e mérito; e eu, filho de Abril e da liberdade, fui igualmente parido do povo, do povo português que tanto tem ao seu alcance e que teima em deixar escapar vezes por demasia). Até breve.
sábado, 25 de julho de 2015
ausências evidentes, take vii
sexta-feira, 24 de julho de 2015
timings
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015
Aqui d'el rei... ou assim
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
redutos
sábado, 27 de setembro de 2014
terça-feira, 2 de setembro de 2014
quinta-feira, 24 de julho de 2014
saudades precipitadas...
quinta-feira, 10 de julho de 2014
quarta-feira, 7 de maio de 2014
segunda-feira, 5 de maio de 2014
há dias e dias
segunda-feira, 28 de abril de 2014
sem que valha a pena parar para pensar
se sei o que é ironia?
domingo, 27 de abril de 2014
A trejeito de desalinhos
quarta-feira, 23 de abril de 2014
azias pós além-tejo
quinta-feira, 6 de março de 2014
void
domingo, 29 de dezembro de 2013
domingo, 24 de novembro de 2013
ausências evidentes, take vi
Liguei o computador, já com uma sweatshirt manhosa mas quentinha a cobrir os costados, para confirmar no site dos caminhos de ferro o que (me) tinhas transmitido. Gare do Oriente, 21h22, chegada do alfa pendular oriundo da Campanhã. Por que razão escolheras apear-te no Oriente? Saudosa de uma Expo que nunca chegaste a visitar? Como tantas vezes os teus motivos são insondáveis desisti das indagações remetendo a minha atenção para considerandos mais práticos. Como sempre, o apartamento devia mostrar-se impecavelmente apresentável quando por ele a dentro te trouxessem os teus seguros passos. Sem tirar nem pôr. Era um facto que se havia instalado na mente, por mais asquerosas e brejeiras que me parecessem as tarefas a executar. Baixei a tampa ao computador e palmilhei todos os recantos olhando atentamente em volta, sondando cada milímetro do nosso templo profano em busca de tudo o que parecesse deslocado; sabes, sou muito mais exigente quando só e te aguardo do que quando estamos juntos – talvez seja alguma forma ou estratégia de compensação, porém não estou certo. Certo tinha que muitas horas intervalavam o momento de reencontro e que, não tendo na agenda obrigação que me fizesse deslocar a outros lugares, vantagens da nossa profissão, as iria fazer valer.
Começara com o pé direito, já que não teria que me preocupar com loiça utilizada pois que a havia posto a lavar breves horas antes de me ter recolhido ao ninho que tão pouco se parece como tal na tua ausência. Arrastei o aspirador até ao quarto para fazer guerra a quantidades absurdas de cotão que pareciam brotar espontaneamente do soalho flutuante. Porém, quando estava quase a fazê-lo, abstive-me de ligar a máquina: parecia-me escandalosamente cedo para tamanho troar e embora não tenhamos calorosa relação com nenhum dos nossos vizinhos o respeito mútuo tem sido uma constante, coisa de gente que se conta e diz civilizada, seja lá o que se pretende transmitir com o que parece uma patranha preconcebida e mobilizadora de comportamentos padrão. Depressa me deparei com opções alternativas, como por exemplo recolher a roupa amontoada que havia semeado pela habitação durante este período da tua não presença física. Era mais sensato começar por aí, pelos pares de calças displicentemente abandonados no chão junto à cama, coisa habitual, e defronte do sofá da nossa sala, pelas camisas e camisolas enrodilhadas que preenchiam vazios nossos pelas cadeiras da mesa de jantar, nos bancos de cozinha, aos pés da cama e só Deus sabe mais onde; dos boxers que faziam fila tanto no quarto de banho como por debaixo daquele estrado e colchão aos quais, juntos, chamávamos cama. Apeteceu-me enfiar toda esta maralha anómica na máquina da roupa e lavá-la a frio, mas logo constatei a patetice dessa espécie de disparate. Por que razão danada nunca aprendi a funcionar com esse aparelho de tambor? Não sei. Facto é que não iria passar a sabê-lo agora. Num mundo onde tudo, quase tudo, incluindo pessoas, é tratado de modo descartável observei que seria igualmente lógico que também um dia todo o vestiário seria tratado da mesma forma. Sorri. Sabia-me estar a ser tolo exactamente por não saber por onde começar a labuta para o embelezamento artificial e aparente do apartamento. Tudo o que me bastava, registei, eras tu. Tu, como se a tua mera presença pudesse reconduzir a vida quotidiana ao seu regular funcionamento. Disparate. Contudo, disparate que me envolvia na melhor sensação de conforto e de continuado aconchego. Os homens são loucos. E as mulheres, as mulheres idem, se bem que de longe mais belas e airosas na sua entrópica loucura; especialmente tu, que manténs os meus neurónios num arraial de sinapses em catadupa ainda que tantas vezes sem um sentido que se possa evocar como racional ou disposto por atributos dessa coisa a que denominamos razão sem saber muito ao certo nem a profundidade nem as peculiaridades do seu significado. Com vocês estamos perdidos. Sem, somos como um quadro de traços desalinhados e inacabado porque, sem apelo, arrasados pela incompletude da nossa condição. Regressa-me ao rosto o sorriso. Não estava para travar conversas dessa dimensão comigo, para mais com a manhã ainda menina. Sabes, sou como os morcegos: funciono em pleno nas horas de escuridão, pela noite dentro. Sabes, eu sei. Que estarias tu agora a fazer na tua cidade? Desliguei a ficha, há tanto por fazer.
Abri o portátil. Mais uma vez. Talvez conseguisse comer algumas horas se eventualmente me embrenhasse em textos do meu trabalho. Olhei-os da mesma forma que um boi contempla um palácio, sem os entender e incapaz de os apreciar. Surgiam-me aos olhos tão-somente letras somadas e baralhadas, enfim, dispostas por uma qualquer lógica que agora me escapava de todo. Já tu és bem mais pragmática do que eu. Num ápice decifrarias sem qualquer dificuldade o código instituído pelas palavras e frases para as quais olhava alheado e sem interesse. Também tu és muito menos resistente a funcionar em sintonia com as ditas horas normais de trabalho, prefere-las. Eu, pelo inverso, não me entendo nessa lógica e sempre preferi delinear objectivos em detrimento de uma esquematização rígida e operacional de como os alcançar, um dos aspectos em que sou indubitavelmente mais flexível do que tu, tanto para melhor como para pior. Chega. Desisti. Para mais tarde retomar. E aí sim, provido do pleno das minhas capacidades intelectuais. Eras tu o centro do meu universo; melhor, era-lo todo. Seriam risíveis empreitadas que exigissem outra coisa que não apenas a mecânica imbuída no meu esquema mental. O meu pensamento estava exclusivamente direccionado para o teu abraço, para os beijos com que ansiosamente prendaríamos os nossos lábios, os nossos rostos, os nossos pescoços que exalariam os nossos cheiros de um para o outro, tudo o mais que ocorresse entretanto vergado à nossa irredutível vontade, actos que antecipava com a maior vontade e impaciência do mundo. Como te amo, miúda. A distância faz-me mal, é como uma gripe que assola o espírito, por muito tonta que te pareça a metáfora.
Ainda assim consegui perder, deveria dizer ganhar, uma hora nestes meus devaneios. Já não me parecia despropositado utilizar o aspirador, embora talvez fosse ainda demasiado cedo. Poderia muito bem começar por limpar o pó que constatava abusivamente acumulado no móvel que sustentava a televisão, uma foto dos dois e um solitário vazio; deveria preenchê-lo, antes da tua chegada, com uma das tuas flores predilectas, talvez uma rosa rosa. Perscrutei o pó com um olhar mais sério. Que gaita, nunca sei o que fazer primeiro: limpar o pó ou aspirar. Quantas vezes já mo disseste? Certamente tantas quantas as que esqueci. Não é por mal, ternura. Às vezes, ou não tão pouco como isso, sou um bocado avoado. Talvez porque continua a deleitar-me escutar-te, seja lá sobre o que for desde que… o desde que fica por ora em trânsito, por terminar: traz à memória coisas pesadas, material inverso ao daquele de que são feitos os sonhos. Há sempre um desde que, um porquê, um mas que assombra a vivência de todo o ser humano. Deixemo-los por agora, perdidos num qualquer recanto obscuro e quase inacessível no âmago da massa cinzenta; ou branca, sei lá, escassos são os meus saberes de neurologia e das neurociências em geral, que é o mesmo que afirmar, na prática, nada.
A imagem da rosa rosa tomou-me de tão vivida, pela necessidade que antecipei impossível de incumprir, que de imediato me imaginei em incursão pela que melhor te fizesse jus. Cumpria a mundana tarefa de ir aprontando a casa para o teu regresso enquanto intimamente indagava quais os locais onde podia obter essa formosa rosa ou ainda se deveria adquirir duas ao invés de uma apenas. Onde obtê-la não era coisa que me criasse grandes obstáculos ou dúvidas, já o quantas falava-me de outra forma. Projectava na mente a imagem do solitário albergando uma tanto como duas, incapaz de me decidir de facto. Diz o bom senso que a nomenclatura nos oferece resposta imediata: solitário, portanto uma só flor. Todavia, a nossa condição, o vivermos as nossas vidas no seio de um regime de comunhão, abria como que obrigatoriamente portas a outra e não tão ortodoxa possibilidade, a saber às tais duas rosas que representariam juntas por força de metáfora as nossas duas pessoas bem como a natureza da nossa união. À guisa deste pensar o trabalho investido em colocar o apartamento num brinco tornou-se bem mais fácil e menos aborrecido, sendo que quando o terminei o espanto assomou-se já que não me esperava tão lesto e eficiente. De facto, isto do tempo psicológico tem muito que se lhe diga. Gostava inclusivamente de lhe dedicar uma atenção mais devida, a este assunto, porém desviava-se por demais das tarefas a que era chamado a executar na lide das actividades da esfera profissional. Paciência, talvez quando puder usufruir de algum tempo extra livre o venha a fazer, pensei mesmo sabendo que tal não viria realmente a suceder por motivos que não importa agora elencar. Enfim, dei-me por satisfeito por a casa estar finalmente própria para te acolher, coisa suficiente para me provocar um satisfeito sorriso que fez esquecer o cansaço físico devido ao aparato que fora conduzindo por mais de um par de horas, bastante mais.
O dia começava a esconder o seu rosto, aos poucos cedendo lugar ao soturno manto negro da noite que tanto estimo. Embora esmiuçasse os prós e contras de uma ou duas rosas rosa a preencher aquele esguio solitário, não me conseguia decidir com vincada certeza. Precisava, o que era mais que certo, era de sair de casa o quanto antes se pretendia adquirir os ditos complementos ornamentais. Seriam as flores o complemento ou ao invés sê-lo-ia o objecto que as albergaria? Mente vadia, o tempo escasseia e ainda assim te pões aos devaneios tontos como se tivesses em mãos todo o tempo do mundo. Urgia, isso sim, ir buscar as flores antes de ir buscar o éden que elas, agora sim, complementariam: tu, miúda. Peguei as chaves, de casa e do carro, e bati a porta já com um destino delineado célere pelos meus neurónios. Que se lixe, o elevador subia ao meu encontro, duas.